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Uma visão e um filme de Jean Garrett

De Sergio Alpendre · Em 3 de Abril, 2022

Certas imagens permanecem conosco por muito tempo, talvez até o fim de nossas vidas. Não me refiro apenas às imagens cinematográficas, ou artísticas, de um quadro ou de um mural. Refiro-me a coisas que testemunhei, por vezes sem querer, ou mesmo sem ter idade para saber se queria ou não testemunhá-las. Bem, não devemos subestimar a curiosidade de um garotinho roqueiro.

Angelina Muniz em Tchau Amor (1983) de Jean Garrett

Quando eu era pré-adolescente, costumava ir ao centro de São Paulo com minha mãe. Ela ia comprar roupas e coisas para a casa, mas acabava comprando também algum disco de rock para mim, após alguma insistência. Certo dia, andávamos pelo Viaduto do Chá e a imagem de um homem estatelado no chão sobre uma poça de sangue seco me impressionou. Já não lembro mais dos detalhes, mas algumas dúvidas não se desfizeram. Porque o sangue estava seco? Teria ele se jogado durante a madrugada? Porque ele ainda estava ali durante o dia, para livre visão dos transeuntes? Porque minha mãe, tão receosa do que eu pudesse ver ou sentir, permitiu que eu visse aquela imagem? Não lembro ao certo, mas talvez ela tenha ficado tão atordoada que se esqueceu de me poupar de tamanha atrocidade.

Mas é um daqueles filmes menores que comprovam a força de um realizador brasileiro (…) cuja carreira permanece criminosamente subestimada, apesar de ser o mais talentoso artesão desse período de imensa produtividade do cinema brasileiro (e paulista).

Talvez isso tenha acontecido um pouco antes das concepção de Tchau Amor (1983), filme dirigido por Jean Garrett, com Antonio Fagundes e Angelina Muniz, que começa justamente com a imagem de um suicídio imaginado no Viaduto do Chá. Muitos anos depois, quando tomei contato pela primeira vez com esse filme, a imagem do homem estatelado voltou à minha mente.

Tchau Amor é o primeiro longa que Jean Garrett realiza também como produtor e o primeiro de sua carreira com um ator tão famoso quanto Fagundes. E ainda assim, o filme não existe em versão digital, nem mesmo em 480p. Talvez por ser do início da decadência da chamada Boca do Lixo, espécie de indústria informal de cinema que foi muito bem-sucedida entre o início dos anos 1970 e o início da década seguinte. Ou porque tem um tema pouco atraente: radialista (Fagundes) com casamento falido, tendências suicidas, grosseiro e de discurso fácil (uma fala – “não reclame, trabalhe” – parece antecipar a bobagem neoliberal de hoje) se envolve com a filha (Muniz) de um magnata, mas não encontra um final feliz.

Não é um dos melhores filmes de Garrett. Estes seriam Possuídas pelo Pecado (1976), Excitação (1977), sua obra-prima A Mulher que Inventou o Amor (1980) e Karina, Objeto do Prazer (1982). Mas é um daqueles filmes menores que comprovam a força de um realizador brasileiro (embora nascido nos Açores, Portugal) cuja carreira permanece criminosamente subestimada, apesar de ser o mais talentoso artesão desse período de imensa produtividade do cinema brasileiro (e paulista). Menos inventivo que Karina, Objeto do Prazer, a longa anterior de Garrett, Tchau Amor se distancia um pouco, no tom e na estrutura, dos filmes da Boca e do cinema de gênero tão perseguido pelo cineasta. Talvez a presença de Fagundes tenha levado o filme para um outro lado, apesar das cenas de nudez e sexo, da presença de assíduos da Boca como Inácio Araújo no roteiro e na montagem e Cláudio Portioli na direção de fotografia, e de momentos como a bronca no filho que sugere ao pai que telefone para a garota da moto, ou a transa que vai para o ar por sacanagem de um produtor, momentos, ainda assim, perfeitamente inseridos e justificados pelo desenvolvimento narrativo proposto.

A personagem de Muniz, liberal e aberta nos desejos, remete à Lu (Zilda Mayo) de Excitação, numa representação da tentativa de libertação feminina que estava bem distante do estereótipo que se tem das chamadas pornochanchadas (classificação um tanto imprecisa para as melhores produções da Boca e certamente para o cinema de Garrett) e também do tratamento reservado à esposa do radialista, vivida por Selma Egrei (que havia feito vários filmes com Walter Hugo Khouri, outro ótimo esteta do cinema de São Paulo). Esta personagem responde pela mulher antiga, de formação machista, embora vítima da traição do marido. A cena final, com a inscrição no carro e o rosto desolado de Muniz, é um achado poético raro no cinema paulista daquele período. Pena que só possa ser visto em cópia de má qualidade.

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1980'sAngelina MunizAntônio FagundesJean Garrett

Sergio Alpendre

"Sem o espírito crítico não há criação artística alguma digna deste nome" Oscar Wilde (na tradução de João do Rio)

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