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À pala de Walsh
Contra-campo, Sopa de Planos 0

Hong Sang-soo: banalíssimo e lindíssimo

De À pala de Walsh · Em 23 de Maio, 2022

Aqui, no À pala de Walsh, estamos em modo de celebração da obra do cineasta sul-coreano, Hong Sang-soo. O motivo principal é, claro está, a estreia comercial, pela Midas Filmes, de dois filmes de Hong, no dia 26 deste mês: Introduction (Apresentação, 2021) e Dangsin-eolgul-apeseo (Perante o Teu Rosto, 2021). Carros, gatos, sacos de plástico e sonhos tão divertidos quanto melancólicos, os ingredientes são banalíssimos e lindíssimos nesta nossa Sopa de Planos dedicada ao universo honguiano.

Introduction (Apresentação, 2021)

O plano médio na chapa do carro em Introduction (Apresentação, 2021) é na verdade um contracampo, diferido por uma breve sequência, de um mesmo plano zoom in, lentamente acercando-se da mesma chapa um tanto antes: para um filme de uma hora e cinco minutos, esta breve diferença espaço-temporal, onde se assinala uma Origem e um destino (a chapa do carro) é suficiente para nos tomar de vertigem. É um plano sintético ou sincrético, pois reúne as várias linhas de fuga, encarnadas em personagens e seus contos pessoais, de que Introduction é a foz. O cinema de Hong sang-soo é cada vez mais prismático, multifocal: ele segmenta, difrata e diverge para recompor uma totalidade que, cada vez mais moderna, só nos pode abordar interinamente, e provisoriamente nos toma de supetão como ontem o grande romanesco, aquele de neo-clássico Visconti e late Syberberg, que necessitava de 3 horas para retomar seu curso de Origem. “Nós temos uma estranha sorte, não?”, pergunta na praia a moça que está ficando cega e tentando morrer ao rapaz que, ator em sursis, recusou-se a beijar na boca no teatro para não chocar a namorada – basta o instantâneo de uma placa de carro para aproximá-los numa rota que talvez seja fatal, em todo caso, um escarpado destino que um filme miniaturizado se permite escalar.

Luiz Soares Júnior

Domangchin yeoja (A Mulher Que Fugiu, 2020)

Quando olhamos para estas mulheres, o nosso olhar é duplo: por um lado, elas são personagens que integram uma ficção criada por Hong Sang-soo; por outro lado, elas são três mulheres. Estas três mulheres têm a profissão de actriz e representam papéis num filme de Hong Sang-soo. Quando o gato, por seu turno, olha para estas mulheres, ele não tem acesso a essa duplicidade porque não possui (presumimos nós) a capacidade de reconhecer a representação. Quando elas interagem com ele enquanto personagens, ele toma-as como, simplesmente, seres actuantes. As mulheres que elas simulam ser, no filme, e as mulheres que elas são, na realidade, unem-se na visão do gato. A sua natureza dual, no entanto, é a mesma que o gato possui, tratando-se de um ser que — saiba ou não saiba — está a ser verdadeiramente ele mesmo ao mesmo tempo que é imerso num mundo de ficção.

Na verdade, embora não haja muitos animais no cinema de Hong Sang-soo, e embora pareça haver muita linguagem, muito discurso, muita humanidade, tudo isto tem muito que ver com o cinema deste sul-coreano. Os humanos de Hong Sang-soo têm algo de animal, de gato. São gatos treinados, que aprenderam a falar, que assimilaram um conjunto de convenções e que fingem ser humanos para que o cinema dos seres actuantes possa acontecer.

José Bértolo

Nugu-ui ttal-do anin Hae-won (Nobody’s Daughter Haewon, 2013)

O filme, um dos mais subestimados de toda a filmografia de Hong, é pontuado por este plano: o da “bela adormecida” interpretada pela magnífica Jung Eun-chae, num papel que faz esquecer a ausência de Kim Min-hee no elenco. A personagem gosta de passar pelas brasas em bibliotecas, o mesmo é dizer: tendo como única ocupação o estudo, Haewon não parece preparada para lidar com as responsabilidades da idade adulta, nomeadamente revela dificuldades em aceitar uma vida levada na ausência de sua mãe, que está de partida para o Canadá com o intuito de desfrutar de uma reforma de sonho. O engraçado – muito mesmo, tão engraçado que roça o desespero mais pateticamente honguiano – é que esta rapariga não apresenta o mínimo traço de timidez, nem parece muito preocupada com o seu futuro académico, nem tão-pouco “perde o sono” com o seu aparente “sem-futuro” sentimental.

A “bela adormecida” divide a sua vida entre homens mais velhos, aqui representados pela figura genérica – nada genérica, na realidade – do cinema de Hong Sang-soo, o realizador que – coitado… – também é professor universitário. A personagem genérica mais comum no cinema do sul-coreano, está visto, é o mais perfeito irmão gémeo do realizador on screen, aqui representado tanto pelo professor alcoólico incapaz de lidar com o novo papel de pai ou com o desgastado papel de marido como pelo professor mais velho que vive nos States e é “tu cá, tu lá” com Martin Scorsese. A vida interior de Haewon divide-se e os dilemas parecem angustiantes – tudo pesa, pelo que o melhor é deixar-se levar pelo sono e ver como as coisas se desenrolam. Hong nunca destrinça bem o que é sonhado do que é efectivamente vivido, mas Haewon é sempre consistentemente hesitante, desesperada e muito engraçada mesmo (quase burlesca), não importa qual seja a cena da realidade sonhada que protagoniza ao longo deste divertidíssimo filme melancólico.

Luís Mendonça

Book chon bang hyang (O Dia em que ele Chega, 2011)

Imagem banalíssima e belíssima: um casal que se beija, um abraço que produz calor bastante para contrariar os pequeníssimos flocos de neve que vemos pousados na roupa e nos cabelos. O que há de singular nesta imagem é o saco de plástico. O plástico é o elemento do feio, o material que nos habituámos a odiar, mas é também aquilo que traz o romance de filme para o plano da intimidade, do real, do quotidiano. É o amor do nosso tempo: pessoas demasiado ciosas da sua autonomia a ponto de se tornarem incapazes de uma entrega total e apaixonada. Um amor que dispensa o encantamento, tendo que bastar-se com uma expectativa de intimidade. Essa intimidade está ali, naquele objecto de banalidade extrema, naquele prenúncio de uma partilha do dia-a-dia. Ao mesmo tempo, é também uma ameaça. Porque essa proximidade de todos os dias mata aquele impulso inicial, aquele acto apaixonado do beijo inesperado. É o pântano dos dias pairando sobre o amor.

Book chon bang hyang (O Dia em que ele Chega, 2011) é um filme de repetições e este é mais um acto que se repete. Seong-jun beija Ye-jeon subitamente, enquanto ouvimos o barulho irritante do saco de plástico branco que segura na mão. E beijá-la-á novamente pela primeira vez enquanto segura um saco de plástico preto. Ou melhor, ele parece guardar a recordação do primeiro beijo (que é o mesmo beijo), pedindo-lhe desculpa “pelo outro dia”. Ela não guarda qualquer recordação do beijo, pelo que este será para ela indubitavelmente o primeiro. Esta é a genialidade do filme, esta confusão entre actos que se repetem numa nova primeira vez e actos que remetem para actos passados, contrariando a repetição (como quando Boram se queixa das constantes incursões nocturnas de Ye-jeon). O que significa isto para o acto de amar? Significa talvez a mais bela das promessas, a de poder todos os dias voltar a uma paixão inicial e exacerbada. Há aqui eflúvios de Groundhog Day (O Feitiço do Tempo, 1993), dessa maravilhosa e horrível possibilidade de puxar para trás, de refazer em melhor ou, pelo menos, em diferente. Seong-jun encontra uma nova mulher que corporize sua antiga namorada, inventa a personagem Ye-jeon, e isso permite-lhe voltar ao coup de foudre, a um impulso romântico incontrolável, a uma paixão sem o “depois”. É esse o momento mágico que se quer guardar, roubá-lo da sua irrepetibilidade seria obsceno. Por isso tem Seong-jun no final um breve momento de hesitação, não mais de um ou dois segundos, mas ele resiste. Sabe que é necessário partir.

Daniela Rôla

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