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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 2

“Perante o Teu Rosto”: cinema em modo cru e em formato ‘raw’

De Ricardo Vieira Lisboa · Em 26 de Maio, 2022

Se o cinema de Hong Sang-soo já se vinha caracterizando, nos últimos anos, por um processo de miniaturização e depuração (filmes cada vez mais pequenos, cada vez com menos atores, cada vez mais reduzidos a conversas à mesa entre copos de soju), a sua safra de 2021 acentua, ainda mais, esse processo, ao ser a primeira a resultar dos condicionalismos impostos pela pandemia.

Dangsin-eolgul-apeseo (Perante o Teu Rosto, 2021) de Hong Sang-soo

Filmados em 2020 e estreados nos Festivais de Berlim e Cannes do ano passado, respetivamente Inteurodeoksyeon (Apresentação, 2021) e Dangsin-eolgul-apeseo (Perante o Teu Rosto, 2021), ambos são filmes completamente descarnados. E o elemento mais saliente dessa mudança de paradigma prende-se com a direção de fotografia. Até 2020, os filmes de Hong eram filmados, de forma quase rotativa, por um dos três diretores, Kim Hyung-koo, Kim Su-min e Park Hong-yeol. Nestes filmes de 2021 – e também já no próximo, Soseolgaui Yeonghwa (The Novelist’s Film, 2022), que estreou há poucas semanas no Festival de Berlim – é o próprio Hong Sang-soo que opera a câmara (além das suas costumeiras tarefas de realizador, argumentista, produtor, montador e compositor da música original). 

Esta progressiva autonomização de Hong Sang-soo vem transformando os seus filmes em pequenas peças de câmara (agora nos dois sentidos), que o aproximam de cineasta “diarísticos” europeu como Alain Cavalier ou Philippe Garrel. Só que o despojamento técnico destes últimos filmes de Hong tem mais que ver, de um ponto de vista meramente superficial (leia-se, puramente visual), com a crueza do Dogma 95 ou com o nudez do mumblecore. Há nestes dois filmes, mas em particular em Perante o Teu Rosto, uma qualidade áspera e grosseira que é extraordinariamente refrescante face a um cinema “de arte” uniformemente retocado pelas mesmas paletas de cores complementares.

É um cinema ostensivamente pobre, como já o vinha sendo, mas agora ganhou uma dimensão radical (quase punk), recusando qualquer tipo de polimento, qualquer tipo de cuidado formal com a imagem e o som.

Como é habitual no cinema do realizador sul-coreano, há em Perante o Teu Rosto um momento de auto-reflexão (sobre o filme e sobre o próprio realizador que filma como quem se vê ao espelho) semi-paródica, quando a personagem de um realizador convida uma atriz a participar num filme seu. Percebendo a sua indisponibilidade e, em jeito de apressar a pré-produção e a convencer a juntar-se ao projeto, propõe-lhe: “vamos fazer uma curta-metragem; só nós os dois, um viagem de três dias, eu levo a minha câmara e filmo eu mesmo; montamos o filme logo ali, no computador, e vemos o resultado”. Essa espontaneidade liberta de constrangimentos financeiros e técnicos atravessa cada fotograma destes dois filmes, mas em Perante o teu Rosto isso é ainda mais evidente por os desequilíbrios de cor e de luz não estarem “escondidos” pelo preto e branco.

Cada plano está prestes a rebentar de sobre ou sub-exposição. As imagens são, quase sempre, desequilibradas, com as figuras em primeiro plano ofuscadas por fundos demasiado brilhantes. O som é roufenho e os elementos naturais, como o vento e a água, invadem a banda sonora e abafam os diálogos. Os figurantes, ao fundo, observam a rodagem e passam desprevenidos por janelas e ruelas estreitas. É um cinema ostensivamente pobre, como já o vinha sendo, mas agora ganhou uma dimensão radical (quase punk), recusando qualquer tipo de polimento, qualquer tipo de cuidado formal com a imagem e o som. 

Mas, regressando à noção de “cinema de urgência”, enquanto ouvia a descrição da personagem do realizador que prefere fazer cinema “sem rede” para poder filmar o rosto daquela atriz que o fascina (antes que ela desapareça), ocorreu-me a história famosa da rodagem de Der Rosenkönig (O Rei das Rosas, 1986), de Werner Schroeter, que serviu como carta de despedida e última homenagem do cineasta alemão para a sua musa, Magdalena Montezuma (que estava a morrer de câncro do intestino). Não se pode, naturalmente, comprar o estilo barroco e operático de Schroeter com a rudeza sóbria de Hong, mas a urgência é a mesma.

E é aí, nessa pressa de filmar, que os múltiplos sentidos do título do filme se revelam: “o paraíso está mesmo debaixo do nosso nariz”, que é como quem diz “está mesmo à nossa frente”, no rosto do outro que, do outro lado da mesa, nos observa de volta. Esta espécie de mantra da auto-ajuda (que o filme ridiculariza, até certo ponto, com as entradas algo inusitadas da narração) é, afinal, uma afirmação do desejo de estar acompanhado pelos que nos são queridos – depois de meses de distanciamento social. 

Os planos que abrem e fecham o filme, com Hyeyoung Lee a observar a irmã que dorme, cristalizam essa vontade de proximidade, intimidade e compreensão. E o horror à alturas (que os planos picados filmados através da janela do prédio que, de novo, abrem e fecham o filme) é, na verdade, o horror ao isolamento – o arranha-céus como símbolo da solidão. Aliás, esse plano, logo no início do filme, que percorre a paisagem urbana – “lá em baixo” – através da janela que, por sua vez, está revestida por uma rede que quadricula esse “lá fora” em pequenos “pixels” é, na verdade, uma metáfora para a mediação digital. Altura = distanciamento = isolamento = digital. Este silogismo visual enche-se, depois, de uma dimensão quase conceptual quando se percebe que o próprio filme (e o próprio método de Hong Sang-soo) é ele mesmo uma afirmação contra a mediação.

Nesse sentido, a falta de polimento de Perante o Teu Rosto dá um novo sentido à noção de “cinema direto”, na medida em que o que aqui se vê parece tirado diretamente da câmara (raw), sem qualquer tipo de processamento, ponderação ou medi(t)ação. Parece feito em direto, como os especiais de TV dos anos 1980. Ou para falar em termos contemporâneos, parece realizado não “para” mas “em” streaming, não no sentido da emissão online, mas no sentido do fluxo (stream) de pensamento. Um cinema realizado em ato contínuo: puro desejo de convívio.

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Ricardo Vieira Lisboa

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