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“Donbass”: fragmento e sátira

De Carlos Natálio · Em 8 de Junho, 2022

Com frequência, chegamos perto do final de um filme e o seu clímax sumariza a transformação (ou impotência para ela) dos protagonismos que vamos seguindo na terra-ficção ou terra-terra, que é como quem diz, um espaço de real que é ficcional no seu recorte. O culminar desta obra ficcional de Sergei Loznitsa talvez possa dar um passo em frente. Na cena final, com a morte da equipa de cinema que se preparava para fazer um filme sobre a “vida pacífica das pessoas do Donbass” conclui-se algo pelo fim da representação. Uma ficção atingida pela morte verdadeira e que depois é filmada (re-mediada) pela câmara de repórteres que acorreram ao local e – claro – pela câmara do realizador. Um conjunto de camadas de intermediação que, mais do que televisionar uma guerra, a transformam numa guerra de símbolos contra símbolos, “verdade” contra “verdade”. O poder do tiro, mas sobretudo o poder da palavra.

Donbass (2018) de Sergei Loznitsa

É essa a premissa do cineasta ucraniano: trabalhar a sátira no seio da tragédia, como forma de salientar essa dimensão populista que, diz Peter Sloterdijk, adaptando uma célebre frase de Rasputine, procura fazer uma verdade a partir da mentira. É um pouco isso, parece-me, que é o Donbass (2018) de Loznitsa: um espaço onde o roubo de toucinhos, o lançamento de baldes de merda nas carecas de políticos, andam a par do lançamento da palavra “fascista” e das explosões e mortes reais. É esse o significado do estilo por vezes histriónico e do decadentismo grotesco que abrem a porta da fabricação da mentira para reais ganhos de natureza bélica e política.

Independentemente do mérito das sátiras, e elas são bem desiguais de sequência para sequência (por exemplo, a cena do casamento parece provir do mais excitável dos filmes de Kusturica), o filme etiqueta-se, ironicamente, como “Manual de Sobrevivência no Donbass em 12 Lições”. Mais do que uma descontrução da lógica do manual do auto-ajuda, esse deixa anunciar que estamos de volta, afinal, à casa de partida: isto é, à lógica da representação. É por isso que creio que a já aludida cena da morte da equipa de cinema é um sinal embutido no interior do filme de uma certa contradição. Com uma mão proclama o fim da possibilidade da representação, mas com a outra vai, criteriosamente, seleccionar e encenar, ficcionalmente, 12 momentos, inspirados em factos reais, que permitam pincelar isso que chamamos de “moisaico” de uma realidade. E é aqui que, creio, o filme acaba por fracassar.

E é por causa desse índice de “reconhecibilidade” que Donbass se contradiz. Um filme que proclama a detonação da representação, mas que, desde o primeiro minuto, é representativo da vida dos que vivem a guerra do Donbass.

Estamos diante de sequências que nos “representam” a tortura de “supostos fascistas” às mãos dos civis embriagados pela propaganda do regime; assistimos a roubos chamados de expropriações; visitamos abrigos anti-bomba onde vivem partes da população afectadas pela guerra; dão-nos a compreender o dilema geracional entre pais e filhos, uns de um lado e outros do outro; acedemos à corrupção e talento para o teatro dos políticos, e por aí fora. A encenação pode vestir-lhe as roupas do absurdo, mas são sequências de corpo-representativo de uma situação global.

De uma certa forma, é o olhar documental de Loznitza que ainda cá está, viajando por entre estes momentos. Mas com uma diferença importante. Olhe-se, por exemplo, para State Funeral (2019), estreado comercialmente entre nós no ano passado. Bem sei que são filmes muito diferentes, e nem pretendo fazer uma comparação entre os dois. Apenas cotejar um ponto particular. Muito embora a montagem deste documentário sobre o luto que a nação soviética fez aquando da morte de Estaline aponte para uma reacção global a um evento marcante, cada fragmento, cada rosto, cada pessoa, cada cena possui em si uma certa totalidade e independência. É depois o espectador que pode ou não construir essa simbólica ideia de uma totalidade ou mosaico.

Infelizmente, não se passa o mesmo com Donbass. Cada uma das cenas escolhidas por Loznitza funciona como fragmento de um modus vivendi no seio de um conflito, mas antes de tudo tem em si inscrito a potencialidade do todo. Isto é, antes de, primeiro, procurar ser único e fragmentário em si mesmo, ele vive de se integrar num todo reconhecível como “retrato de uma guerra absurda e postiça”. E é por causa desse índice de “reconhecibilidade” que Donbass se contradiz, afinal. Um filme que proclama a detonação da representação, mas que, desde o primeiro minuto, é representativo da vida dos que vivem a guerra do Donbass. É essa contradição que faz das personagens de Donbass a verdadeira carne congelada nos frigoríficos que vemos nos primeiros minutos.

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2010'sEmir Kusturicapeter sloterdijkSergey Loznitsa

Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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