Body Double é uma rubrica do À pala de Walsh que transforma o artista convidado num programador (também) ao serviço das suas imagens. No âmbito desta rubrica, cada realizador ou artista escolhe uma obra sua e “programa” (virtualmente) um outro filme para a emparelhar. Num pequeno texto, dá pistas sobre a ligação entre os dois “corpos”.
Belarmino (1964) de Fernando Lopes (still fotografado por Jorge Molder), à esquerda, e fotografia de Não tem que me contar seja o que for (2006) de Jorge Molder, à direita.
Twin Peaks: Fire Walk With Me (Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer, 1992) de David Lynch (still fotografado por Jorge Molder), à esquerda, e fotografia de Não tem que me contar seja o que for (2006) de Jorge Molder, à direita.
“No princípio de 2006 o João Bénard da Costa convidou-me para expor na Cinemateca e deu-me liberdade para fazer o que quisesse, desde que tivesse a ‘ver’ com cinema. Escolhi fotografar mais ou menos as fitas que andava a ver ou rever, sem procurar fazer um apuramento dos meus melhores; houve casos em que usei a minha própria figura para evocar imagens de filmes e outras situações relacionadas. A exposição chamou-se Não tem que me contar seja o que for.
Na inauguração chegou-se a mim o Fernando Lopes que me disse: tens aqui uma imagem que me toca em particular e adivinho-lhe uma familiaridade que reconheço e desconheço. Era uma imagem do Belarmino (1964) de um árbitro que atravessa a cena (o ringue) sem deixar rasto. Rimos ambos: o toque tinha a sua razão de ser.
Anos mais tarde, em 2012, o Paris Photo convidou o David Lynch a fazer uma escolha de imagens dos artistas participantes, que deu origem a um livro-exposição.
Da selecção fazem parte duas fotografias minhas: uma imagem em que eu faço uma careta inspirada na mulher que mostra o que vai acontecer através de gestos e caretas [Twin Peaks: Fire Walk With Me (Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer, 1992)]; uma outra, o árbitro do filme do Fernando Lopes.”
Jorge Molder, fotógrafo