Não quisemos fazer uma entrevista como as outras, porque o entrevistado em questão era nada mais nada menos do que Boris Lehman, um dos convidados do Doc’s Kingdom deste ano e convidado a partir de amanhã, dia 8, da Cinemateca Portuguesa. Com 78 anos e uma obra extensa que se propõe expandir o género do diário filmado, Boris revê-se muito nos filmes mas pouco ao espelho; diz-se um amante do outro, alguém que erra muito pelo mundo afora e normalmente a pé. Por ordem alfabética, organizamos em 42 palavras-chave o universo de Boris Lehman, realizador de origens várias e destinos ainda mais variados. Saltitamos de palavra em palavra, numa viagem por peças que nos ajudam a compor, no final, uma imagem tridimensional deste cineasta para quem a vida se confunde tantas vezes com o cinema. Vamos de “A”, de “Alojamento”, a “V”, de “Viajar”, passamos por pessoas, países, sentimentos, questões do corpo e – armados em metafísicos – assuntos do cosmos.
Para a concretização deste autêntico “glossário Boris”, foi fundamental o apoio de Amarante Abramovici, de Celso Rosa, de Nuno Lisboa e de João Ricardo Oliveira. Queremos agradecer ainda à Justine Lemahieu pelo apoio dado à tradução. Participaram na composição deste “abecedário” os camaradas walshianos Carlos Natálio e Ricardo Vieira Lisboa.

Alojamento
É um grande problema na minha vida, a habitação. Eu sou um SDF – Sans Domicile Fixe [Sem Domicílio Fixo]. Sou um ser humano, sou um ser errante. Tenho problemas em me mover o tempo todo – é uma recorrência nos meus filmes. Procuro algo que certamente está ao meu alcance, próximo, mas que não consigo encontrar. Estou bem em todos os lugares, estou em casa em todos os lugares. Na verdade, e realmente, não tenho um lar.
Amar
É o que procuramos. Amar e ser amados. Mas nunca chegamos lá. O caminho é o mais importante.
Amigos
São muito importantes para mim. Foram eles que permitiram que fizesse filmes. São os amigos e não o dinheiro. Então, sim: a amizade é mais importante do que o amor. Tenho muitos amigos, tive sorte. A amizade é trabalhada, cultivada. Há decepções e há iluminações.
Animais
Não sou muito de animais: não tenho gato, cão, nenhum animal de estimação. Eu sou “urso”, o meu nome é “urso”, sou do signo de Peixes e é isso.

Cabelos Grisalhos
Cabelo grisalho… Para mim é mais cabelos brancos. Cabelo que era originalmente preto. Cá está: é o tempo que faz com que ele mude de cor. Cinza: entre preto e branco.
Canções
Há quase sempre uma música nos meus filmes. Porque tudo termina sempre com músicas.
Cinema Americano
Foi importante no meu período de cinefilia. Os grandes filmes americanos… O cinema americano, sim, é o cinema por excelência. Houve muitos cineastas americanos que foram importantes para mim. Houve Charles Chaplin, que é, na realidade, inglês, mas… A comédia americana, claro: Capra e Lubitsch… são todos basicamente europeus! A América é como a Bélgica: sem identidade. Nós realmente não sabemos o que é um belga, vêm de todos os lugares.
Não se trata da qualidade dos filmes. O western, os filmes policiais – os americanos sempre estiveram um pouco à frente de todos os outros, especialmente no cinema, no entretenimento e no dinheiro. Todo o mundo copiou esse cinema. Sejam os russos, os chineses ou os europeus, mas sempre se saíram menos bem. No nosso caso, havia outra coisa: o pensamento que era bastante infantil, em geral, entre os americanos, porque eles fazem filmes para a idade mental de cinco anos.
Hoje o cinema americano não significa nada para mim. Deixei de ir ao cinema. Excepto para ver filmes de amigos, em festivais onde ainda sou convidado. Parece-me muito remoto, muito superficial, desinteressante.
Cosmos
[Risos] Entramos na metafísica, astronomia… Sim, eu faço filmes cósmicos ao invés de filmes sociais. Porque o cosmos une a identidade, a pessoa. Somos apenas um pontinho no oceano cósmico.
Curiosidade
Sempre disse que os meus filmes se vão encaixar no que se chama “Gabinete de Curiosidades”. Ou seja, num pequeno canto da grande história do cinema. Sempre tive tanta curiosidade sobre tudo… Foi a curiosidade que me levou a fazer filmes, a conhecer esta ou aquela pessoa. Mas essa curiosidade foi sendo acompanhada pela minha timidez. Há sempre em mim um movimento para a frente e outro movimento para trás.
Desordem
Sim, isso caracteriza-me: a desordem, o caos, a síndrome de Diógenes. Acumulo coisas, o que acaba por causar uma desordem de que não controlo. Recentemente, tentei acabar com isso, de me mudar e de levar comigo as minhas coisas. Fiz cinco mudanças, exilei as obras, diria, e ainda há montes delas – é como um poço sem fundo.
Doces
É o pecado bonitinho. É algo que, sem dúvida, vem de longe. Sinto-me como quando fiz uma cirurgia às amígdalas, talvez quando tinha uns quatro ou cinco anos… lembro-me da minha mãe trazer-me gelado. Desde então, talvez por isso, fiquei um pouco viciado em gelados, bolos e doces – sou um homem adocicado, sempre disse isso.
Escrever à Mão (Caligrafia)
Muito importante: a mão é o que falta um pouco hoje, porque tudo foi substituído por máquinas, próteses, coisas que não são mais humanas, no sentido em que entendíamos a palavra “humano”. A mão é a extensão do corpo. É ela que faz de um homem um homem, pois ela pode pintar, pode tocar piano, como eu fiz… e fazer ferramentas e armas, é claro, o que é mais sério.
Espelho
Estou a terminar um livro de auto-retratos, uma espécie de biografia falsa, como sempre, feita de fragmentos, pequenos capítulos reunidos como que numa cartilha alfabética. E assim há, na letra “M”, a palavra Espelho [Miroir]. Ela vale um pequeno capítulo. Mas é engraçado porque não costumo olhar ao espelho muito tempo. Olho um pouco quando me barbeio, mas muitas vezes até me barbeio sem espelho, sem me ver. Na verdade, preciso dos meus filmes para me ver. É a câmara que se volta para mim. O que é bastante raro com Jonas Mekas, por exemplo, porque ele opera a câmara, então vêmo-lo muito pouco, excepto quando entrega a câmara a alguém ou quando passa à frente de um espelho. Para mim, é isso: usei a câmara como espelho, qual terceiro olho.
Eu
Sim, sempre fui acusado de narcisismo e de falar de mim, olhando para mim, mas é uma forma um pouco superficial de falar, porque o “eu” está sempre ligado aos outros e nunca nos conseguimos ver. Precisamos uns dos outros. Já trabalhei muito com cegos, justamente, que não se enxergam. Enfim, o eu é todo o mundo… “Eu sou o outro”, como um e o outro diziam.
Ficção
A minha vida inteira é uma ficção. Toda a vida é uma ficção. Obviamente que todos os elementos que usamos são documentais, mas o resultado é sempre uma ficção. É mais do que uma ficção: é uma lenda. E é isso que permanece, é o que vai ficar também dos meus filmes e da minha vida: uma ficção total, pouco relacionada com a verdade.

Fotografias
Continuam mesmo que o cinema pare. Não é para se ver ou mesmo para ver os outros; é um gesto que provoca contacto. Eu digo prova de contacto. A fotografia, antes do cinema, é isso: a busca do contacto. É também fotografar o momento que desaparece, o presente que se esfuma.
Futuro do Cinema
Não há futuro. Não estou a falar de cinema, estou a falar do mundo como um todo. Estamos num período de extinção, como sabemos. O futuro do cinema… Não acredito mais no cinema, então pergunto-me: “Por que razão ainda faço filmes?” Bem, irão sempre haver filmes, como sempre escreveremos livros. Em todas as épocas, há começos, idades de ouro e declínios. Este deve ser um período de declínio. Comparo-o ao declínio da minha própria vida, claro. Então, sempre haverá cinema, mas será outro cinema. O que é o cinema, o que é a arte? Esta é uma pergunta que podemos fazer a cada dez anos, a cada vinte anos, a cada geração.
Godard, Jean-Luc
[Risos] Godard é incontornável, porque fez parte da minha adolescência, quando comecei a ir muito ao cinema, nas cinematecas, por altura da Nouvelle Vague. Godard é mais do que uma lenda, é um mito, ainda vivo. Não se trata da qualidade de seus filmes, antes do impacto que ele teve no cinema. Acho que o cinema mudou um pouco com Godard e com todas as pessoas à sua volta. Essa época está distante, mas foi o cinema da minha adolescência, foi também aquele que me deu coragem para filmar.
Janela
Sempre vi o cinema como uma janela aberta para o exterior, para o universo. Quando era jovem, sonhava sair pela janela, porque o meu pai me trancava no quarto para eu não sair.
Juventude
Espero continuar jovem, apesar da minha idade. Acho que continuo a ser um bebé bastante imaturo. Alguém que não quer crescer, como o sonho, também de criança, de menino que não quer crescer.
Lehmann (com dois “n”)
O meu nome é escrito com um “n”, mas os nomes mudaram muitas vezes na história. Alguns nomes foram americanizados, afrancesados, porque tentamos esconder e assumir outra identidade – é isso. Os meus pais vieram da Polónia, fugiram durante a guerra e o nazismo. Eles falharam, eu diria, na Bélgica, que era um país de trânsito para ir para a América. Não chegaram à América, então permaneceram toda a vida neste país de trânsito. Eu não nasci na Bélgica. Nasci na Suíça, porque eles tiveram que fugir uma segunda vez quando a Bélgica foi ocupada pelos alemães. Depois da guerra, voltámos para a Bélgica, que é uma espécie de país adoptado. Nunca me senti realmente belga, talvez de Bruxelas, porque tenho muitos amigos lá, fiz o meu trabalho lá. Comecei a fazer cinema lá e mesmo que fuja para outros países, volto sempre ao ponto de partida.

Mãe Natureza
Uma mãe assim… sei lá, não sou muito maternal, não tenho filhos. Pode ser também um problema na minha vida, na minha vida conjugal, que eu não tenho, pois troquei-a por uma vida de cinema, de cineasta, de filhos que são filmes. É uma escolha ou uma não-escolha. A minha vida é feita de muita rejeição. Mãe Natureza… Eu amo muito os filhos dos outros…
Marker, Chris
Tal como Godard, é alguém importante para mim, que mostrou um caminho, que precedeu muitas coisas. É inteligência, é arte em todas as suas formas. Bem, excepto pelo lado, digamos, político que eu realmente não tenho. Não sei como o definir. Sim, é um vanguardista, alguém que mostrou um certo caminho do qual certamente tirei fragmentos. Posso dizer isso também sobre Bresson e outros cineastas, como Ozu. Temos sempre mestres, faróis. Na literatura também, na poesia também. Há Baudelaire, há Perec, há muita gente.
Máscara
Máscara? Sim, escondemo-nos sempre atrás de uma máscara. Isso também é ficção. Permite a ficção, permite jogar e ser audacioso. Por causa de coisas que não ousamos fazer com a cara a descoberto, colocamos uma máscara e então podemos dizer a verdade, uma certa verdade.
Mekas, Jonas
Jonas Mekas também é um personagem importante para mim. Conheci-o e tornou-se um amigo. Eu vi os seus filmes e, depois, ele viu os meus. Houve um encontro. O meu cinema não é uma cópia do cinema de Jonas Mekas. Aliás, foi isso de que ele gostou, mas claro que faz parte do que chamamos de “diário filmado” e foi Mekas quem praticamente inventou [o género]. Eu só o segui… Cada um trabalhou independentemente do outro. E depois, houve encontros, correspondências. Por exemplo, a amizade também é importante para Jonas, tal como o tempo, o tempo que passa. O facto de fazermos filmes não num tempo específico, mas num longo período também nos aproxima. Um diário não pode ser escrito em três páginas, um diário que seja íntimo. Precisamos de um grande volume.
Memórias
Vivemos com muitas memórias, isso é certo, mas, a dado momento, elas desaparecem, apagam-se. Permanecem nas obras, nos filmes, nos livros, nas notas. Para outros, isso permanece num tempo presente, então é isso que passamos, são pequenas coisas que transmitimos.
Mulheres
Muito importantes na minha vida [risos]. É graças às mulheres que fiz filmes, que viajei, que estou aqui. Sim, podemos escrever páginas e páginas…
Nudez
Nudez para mim é Adão e Eva. É essa nudez primordial, eu diria. Nada que ver com filmes pornográficos. É a inocência; é o corpo sem máscara. Mas, como sabemos, não pode durar, porque o conhecimento faz com que sejamos punidos: temos de nos vestir, esconder, maquilhar, desaparecer diante de paredes e cortinas.
Origem
Orienta a nossa vida: o saber de onde viemos, para onde vamos. Mas, com uma certa idade, não nos preocupamos mais com a origem, preocupamo-nos apenas com o presente, o momento, o agora. Nisso, o passado torna-se muito melancólico, pelo que tento esquecê-lo, além de não ter mais memória. Quanto ao futuro, não tenho muito à minha frente.
Pele
A pele é como a película de cinema, digo sempre que é uma segunda pele, pois a película também é como uma pele. É a aparência da pele: as pessoas sempre me dizem que estou bem, mas não conseguem ver o meu interior. A pele também protege. Ao mesmo tempo, não esconde mais nada, pois começamos a ver o esqueleto por trás, as veias circulantes.
Quadros
Pintores não faltam. Eu desenhei, realmente não pintei, não trabalhei no duro. Mas poderia ter sido outra coisa que não um cineasta, poderia ter escrito. Escrevi muito, ainda que não tenha publicado poemas ou romances. Desenhar é importante, sim, porque também vem da mão. Quando era jovem, claro, havia pintores que me fascinavam: Salvador Dalí, Picasso e muitos outros, mas vieram muito mais tarde… Comecei mais pela música.
Quotidiano
É feito de muitos incómodos. São as preocupações do dia. Os remédios que devemos tomar, a água que devemos desligar, as chaves que não devemos esquecer. Mas o quotidiano também é feito de alguns imprevistos, de algumas surpresas, de alguns sorrisos.
Refeição
Também é necessário sobreviver. Devemos comer para viver. Algumas refeições com prazer, outras sem apetite.
Religião
A religião faz muito sentido. Eu vivia num ambiente religioso, porque os meus pais eram judeus ortodoxos praticantes. Passei toda a minha infância nesse ambiente. E sempre me rebelei, me revoltei. E agora pergunto-me se acredito em Deus… Não, não acredito em Deus. Acreditei no cinema uma vez, mas agora tenho dúvidas…
Ruiz, Raúl
Ele era alguém que importava para mim, que fez um cinema próximo do meu, de certa forma, pela maneira como foi feito. Fiz um estágio num filme seu chamado Le professeur Taranne (1987), um título pouco conhecido, que Ruiz rodou na Bélgica. Ao contrário de Alain Resnais ou de Jacques Demy, com os quais também estagiei, não era uma filmagem aborrecida, o que significava que queria fazer este tipo de cinema. Não estou a falar do resultado do filme, estou a falar da rodagem, da equipa, da maneira de fazer um filme… Não havia um argumento escrito, fazia-se a planificação na hora, no set, era preciso ser-se rápido e preciso ao mesmo tempo, não fazer muitos takes, etc. Ruiz escreveu um texto para um dos meus filmes, L’homme de terre (1989). Tinha feito o filme e mostrei-lhe a montagem. Disse-lhe: “Preciso de um texto”. Uma semana depois, tinha um texto.

Une Histoire de Cheveux (Sibérie) (2020) de Boris Lehman
Rússia
É obviamente um país fabuloso, pela sua literatura, pela sua música, por todos os dramas por que passou. Sempre tive interesse em lá ir, não apenas para filmar. Estive lá já não sei quantas vezes, pelo menos cinco ou seis vezes. Havia estado na época da União Soviética e também depois da Perestroika. Um país que mudou muito e que ainda está em movimento. Os dramas não acabaram. E fiz alguns filmes lá, bem como conheci grandes cineastas como Sokurov e Iosseliani.
Saguenail e Regina
[Risos] Não posso ser muito objectivo, é um encontro fundamental, e pelo cinema e pela amizade e pela lealdade, pela inteligência. É isso… Na nossa vida, conhecemos algumas pessoas geniais, mas não muitas. Cinco ou seis são suficientes para uma vida. Tentamos não traí-las e amá-las o máximo possível.
Solidão
Isso é o que sempre nos apanha. Podemos estar cercados de milhares de amigos, admiradores, admiradoras, e damos por nós sozinhos, é parte da condição humana.
Ucrânia
O meu pai é da Ucrânia, é de “Lviv” ou “Lwów”, cidade que mudou de nome várias vezes. Estive lá, filmei algumas cenas. O que vimos, eu diria, já não existe mais, não é mais o mesmo. As Escadas de Odessa que Eisenstein filmou, mas eu também filmei, foram um pedaço importante do cinema. Agora, é outra coisa.
Varda, Agnès
As pessoas muitas vezes compararam o meu cinema ao de Varda, mas essas são comparações um tanto ou quanto superficiais, acho. Obviamente que certos filmes, como Daguerreotypes (1975), por exemplo, podem ser comparados com, por exemplo, o meu filme sobre o distrito de Béguinage [Magnum Begynasium Bruxellense (1978)]. Foi feito na mesma época, ela está na rua dela e eu no meu bairro. Gostei de alguns dos seus filmes, principalmente dos primeiros, diria, menos dos últimos, menos das suas ficções. Ela é a “mamã”, figura “maternal”. Tocava-me nas costas e dizia: “Meu pequeno Boris”. Considerava-se “a avó”, fez a mesma coisa com Chantal Akerman. Eu não quero fazer pouco dela, porque foi uma grande cineasta. Quando foi para as instalações é que não gostei nada. Achei infantil, pueril, sem grande interesse.
Velhice
Estou a vivê-la, ainda que nunca tenha pensado ser velho. Mas com esse vírus de merda e a pandemia, com toda essa conversa que ouvimos sobre os idosos não serem essenciais, de terem de ficar em casa, ser vacinados, muitas vezes sentimo-nos velhos, fora do mundo, marginalizados. De qualquer forma, continuo a fazer filmes como fazia há 50 anos – não vejo diferença nenhuma. Desde que o cérebro funcione…
Viajar
É a minha condição primordial. Mover-me, não permanecer no mesmo local, imóvel. Viajar… quando dás um passo, estás a viajar. Podes viajar no teu quarto, movendo-te alguns milímetros. Mas a quantidade de passos que dei na minha vida é alucinante. Houve uma altura em que tinha um podómetro – as pessoas já não sabem o que é isto, enfim, serve para medir o número de passos e prendemo-lo à cintura ou ao joelho. Agora temos isso nos telemóveis. Desde os 15, 20 anos, ando cerca de 8 a 10 km por dia, e por isso calculei que já andei quase três vezes à volta do mundo, à volta da Terra, com os pés. Isso significa que usei muitos sapatos. E tenho pés chatos. Mas havia um corredor, campeão na minha juventude, chamado Zatopek – acho que era checo – e que também tinha pés chatos…