Body Double é uma rubrica do À pala de Walsh que transforma o artista convidado num programador (também) ao serviço das suas imagens. No âmbito desta rubrica, cada realizador ou artista escolhe uma obra sua e “programa” (virtualmente) um outro filme para a emparelhar. Num pequeno texto, dá pistas sobre a ligação entre os dois “corpos”.


Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund, à esquerda, e Arriaga (2019), de Welket Bungué, à direita.
“Arriaga (Gio Lourenço) é um jovem de classe média que procura a aceitação dos outros jovens da sua comunidade que por sua vez se vêem subestimados pela sociedade que os formou. Uso o contexto ficcional de um bairro na periferia de Lisboa para dar visibilidade aos sonhos reais e aos caprichos das personagens do filme que gradualmente se emaranham numa teia de crimes em clima de suspense. O filme Arriaga faz parte de um tríptico fílmico que se iniciou com Bastien (2016) e terminará com Lebsi & Prima (2024, inédito).
Cidade de Deus é uma ficção bem real, no que toca à natureza dos conflitos vividos na periferia dos grandes centros urbanos brasileiros. O cidadão desprivilegiado no Brasil corre maior risco de ser seduzido pelo crime do que aquele que nasce num seio familiar minimamente estruturado economicamente. Mas para mim, o que o filme Cidade de Deus tem em comum com Arriaga é que todas as personagens querem ser integradas na sociedade, seja porque anseiam o poder, ou porque naturalmente querem ser reconhecidos como indivíduos.”
Welket Bungué, realizador e actor.