O corpo humano é composto por 60% de água. No filme da estónia Anna Hints, Savvusanna sõsarad (A Irmandade da Sauna, 2023) que chega a Portugal depois de passar pelo circuito de festivais mundial – de Sundance a Hong Kong – e arrecadar o prémio para Melhor Documentário Europeu nos European Film Awards, o corpo é fisicamente testado para que a alma seja expurgada. Através da desidratação da água que o ocupa e faz pesar, o medo, a dor, a vergonha de um grupo de mulheres são libertados no suor e nas lágrimas que o ritual tão etéreo quanto gutural da savvusanna kombõ, ou sauna de fumo, produz. Uma tradição cujos primeiros registos datam o séc. XIII, reconhecida enquanto parte indispensável da vida diária da comunidade do município de Võro no sudeste da Estónia e acrescentada à lista da herança cultural da Unesco em 2014 (a sauna da Finlândia, considerado o lugar de nascimento da sauna, só foi listada em 2020), nunca a sauna de fumo tinha ganho tanto relevo internacional como agora através do filme de Hints. É um dos cinco filmes nomeados ao Lux Prémio do Público 2024.
A abordagem documental de Hints, ela própria um elemento da irmandade, baseia-se na comunicação, e desenvolvimento de empatia e intimidade ao longo de várias sessões filmadas da sauna de fumo. Ela acredita no poder transcendente da purificação individual através da irmandade. Não há narração ou qualquer outra contextualização presente no filme. Entre sombras contrastantes e o mesmo dourado do realismo barroco, testemunhos dolorosos são intercalados com imagens de membros de corpos femininos (mãos, coxas, ombros, seios) e poucos rostos filmados. Os corpos nus no ecrã são reais, orgânicos. E a câmara não se prende na mulher que fala, mas também naquela que ouve. Nada está fora de limites e na sauna partilha-se o indizível. As histórias das mulheres são secretas e incómodas e abrem-se à violência da maternidade, à misoginia entre mãe e filha, ao aborto, ao trabalho de parto, ao cancro, à primeira experiência sexual, à memória imparável do horror da violação sexual.
Em conjunto com Notre Corps (2023), de Claire Simon, um documentário mais tradicionalmente observacional e mais denso na forma como aborda a natureza da dor alocada aos corpos nascidos femininos dentro de um hospital parisiense, o nós universal é, em A Irmandade da Sauna, o gesto de demonstração folclórica, aliada ao misticismo do espanta-espíritos, que provoca o evento sagrado onde se dará a catarse no meio de toda aquela madeira, fumo e água, seguido por um mergulho no lago gelado. Enquanto isso, o feitiço cinematográfico da sala de cinema encaixa-se na perfeição dentro da experiência colectiva sensorial da sauna de fumo que sai do ecrã para “atacar” o espectador.
Tal como esperado, a conversa com a realizadora espelhou a espessura do seu simples filme, tão humanista quanto sobrenatural. Num discurso lírico-confessional, reluzente e por vezes muito profundo, Anna Hints teve o cuidado de nada deixar por dizer sobre a intimidade criada com a irmandade antes, durante e depois das filmagens, sobre os corpos diminuídos aos seus elementos e às suas almas lentamente restituídas, capazes de prosseguir em direcção ao futuro depois de cada nova sessão.

Como é que se deu a concepção do filme? Suponho que a sauna de fumo seja uma experiência que lhe é familiar, pela forma como é retratada.
Sim, nasci na cultura da sauna de fumo. Assim sendo, não sou alguém de fora que olha para dentro desta cultura. Sou uma voz que vem de dentro. No meu caso, foi a minha avó paterna que me introduziu a este legado, e ela era como que uma curandeira. Ela passou-me a linguagem, as histórias. A sauna de fumo é a mais antiga tradição da sauna. É onde as mulheres costumavam dar à luz, lavar e curar-se. É algo muito especial de tão sagrado que é. É como um ser vivo para nós; onde as roupas são retiradas, e com isto não me refiro às coberturas físicas, mas às emocionais. Vais lá e lavas o teu corpo, lavas a tua alma.
Quando penso no impulso de onde o filme vem, a minha própria relação profunda com a sauna de fumo, apercebo-me que a origem remonta a um momento na minha história quando tinha apenas 11 anos e o meu avô faleceu. Lembro-me que o seu corpo estava deitado na fazenda, no campo, e a família foi à sauna de fumo no dia anterior ao seu funeral. E ali estava a minha avó, os meus braços, os meus joelhos; estávamos lá todos. A minha avó revelou que o meu avô a tinha traído não uma vez, mas várias vezes ao longo da sua relação, e que até tinha vivido com outra mulher. Ela libertou todas as emoções relacionadas com isto. Lembro-me de como ela expurgou a dor, os ferimentos, a raiva, e a vergonha, também havia muita vergonha. E ali estava eu com 11 anos. Mais tarde vim a perceber que aquela tinha sido a minha iniciação na irmandade.
Normalmente, a partilha na sauna de fumo começa ainda dentro do ventre materno. Mas estar realmente aberto àquele tipo de partilha, àquelas histórias, surgiu naquela altura. Para ter uma ideia, uma sessão de sauna de fumo pode durar várias horas. Assim que saímos nessa primeira vez, vestimos a roupa e eu senti que a minha avó tinha feito as pazes com o meu avô para que no dia seguinte o pudéssemos enterrar. Foi nesta altura que ecoou em mim este reconhecer catártico de que há um lugar seguro nesta terra, onde todas as nossas emoções ou experiências podem ser partilhadas e realmente ouvidas. E quando damos uma voz à nossa história, e um lugar para que outras histórias sejam ouvidas, alcançamos um poder curativo muito grande.

Anos mais tarde em 2015, estava num mosteiro budista com a minha mãe na Tailândia a fazer um retiro silencioso. 26 dias em silêncio, durante os quais não podia ler, escrever ou falar. E ainda assim reparo que ainda que não pudesse falar, ouvia vozes dentro de mim. Comecei a questionar-me sobre a origem daquelas vozes. Entre essas vozes, estava lá a minha? Será que me consigo reconhecer no meio das muitas vozes? Ouvi vozes silenciadas de gerações passadas, de momentos traumáticos. E porque do lado da minha família materna a tradição da sauna de fumo tinha-se perdido, eram muitas as vozes silenciadas. Foi a partir daí que surgiu a visão para o filme. Queria oferecer o espaço às mulheres para encontrarem e partilharem a sua voz neste lugar sagrado da sauna de fumo.
Demorei sete anos a concluir o filme. Talvez o mais curioso seja o facto de que eu pensava que o mais importante, quando comecei a fazer o filme, seria ter a coragem para partilhar o desconfortável. Quando entrei no processo da feitura do filme, o crucial passou a ser ter a coragem de ouvir o desconfortável. Será que estamos realmente prontos para ouvir o desconfortável na sociedade de agora? Sim, poderá dizer-se que há mais comunicação agora. Vamos conversar sobre as coisas. Mas as coisas são sempre coloridas desta forma: vamos falar sobre a chuva, mas vamos falar dela suavemente. “Consegues fazer isso de forma mais agradável?” E tudo o que eu consigo pensar é que não há nada de confortável ali, e é exactamente por causa disso que a cura se dá, dentro desse espaço incómodo. Quis então transformar o espaço atribuído à sauna de fumo de forma a encaixá-lo na abertura que é a escuridão da sala de cinema, para que o espectador sinta que também faz parte da irmandade.
Precisamos de reconquistar os nossos corpos. Precisamos de nos questionar: “Será que os nossos corpos nos pertencem realmente? E desde o início?” Quando um ser nasce num corpo feminino, nunca nasce numa página em branco. Há tantas condicionantes. E depois disso uma viagem começa, a da recuperação dos nossos corpos, cada uma por si e através do apoio da irmandade.
E como é que conheceu estas mulheres? Como foi trabalhar com elas?
Em tudo o que diz respeito ao trabalho realizado com elas, criei uma regra para mim de que não iria convencer ninguém. Iria entrar na comunidade, sim, mas como sou daquele lugar e já faço parte da cultura, já se tinha vindo a construir uma primeira camada de confiança. Teria sido um ponto de partida muito diferente enquanto forasteira. Depois conheci as mulheres individualmente, e fui sempre muito transparente sobre o nível de intimidade que estava à procura para o filme. Mantive a regra, não irei convencer. Por isso, quando partilhava o que estava a pensar fazer e alguém me dizia que gostaria de fazer parte do filme, eu prosseguia. Mas sempre que sentisse que havia hesitação, colocava a etapa de convencer de lado, porque sabia que o tipo de filme que queria fazer só seria possível com um sim das mulheres, e nunca colocando a minha voz na boca delas.
Como já tinha dito, o processo durou sete anos. Durante todo esse tempo filmámos em dez saunas diferentes e vi-me a restabelecer relações com algumas mulheres que no início me tinham dito que não queriam fazer parte do filme. Não sei o que poderá ter sido…talvez o movimento Me Too tenha vindo a provocar essa mudança. Para além disso, temos que ter em consideração que a Estónia é um país muito pequeno, com uma população de apenas 1,3 milhões. Rapidamente tornou-se de conhecimento geral que eu estava a fazer este filme. Comecei a ser abordada por outras mulheres e outra irmandade começou a tomar forma. A certa altura, uma senhora conduziu até à quinta onde eu estava a filmar, saiu do carro a perguntar “Onde é a sauna deste mês? Também quero fazer parte do filme.” E ficou no filme.
Quando falamos e pensamos num cinema documental, é crucial que as pessoas saibam como os seus corpos estão a ser tratados.
Outra coisa muito importante nesta forma de trabalhar cinema, com base na construção desta relação de confiança… este compromisso de não convencer é profundamente oposto àquilo que me foi ensinado na escola de cinema. Ensinaram-me precisamente a convencer os sujeitos, a seduzi-los. Eu tive de ir contra isso. Relativamente ao processo em si, quando alguém concorda em fazer parte do filme, a equipa de produção traz os papéis legais que têm que ser assinados antes das filmagens. Como é que eu poderia pedir isso a alguém? Estou-lhes a pedir para se despirem, de corpo e alma, mas antes teriam que assinar algo… Não fazia sentido. Enquanto realizadora, a equipa à volta do projecto é talvez o mais importante. Fiz um acordo com a minha produtora, Marianne Ostrat, que apoiou a minha visão e arriscou comigo, de que nenhum papel seria assinado até chegarmos à pós-produção. Primeiro mostraria o filme às mulheres durante a montagem e elas concordariam ou não com os seus planos. Queríamos que as suas vozes fossem realmente ouvidas.
Aliado a isto, preciso de dizer que não há nada de sexual quando estamos todas a suar em conjunto na sauna. Sim, estamos nuas, mas não há sexualidade nos corpos. Na sociedade, o corpo feminino nu é tão sexualizado! Receava não conseguir que o olhar não fosse sexual, que nenhum corpo fosse objectificado e de que ninguém se sentisse objectificado também. Fizemos vários testes com o director de fotografia (Ants TammikI) no meu próprio corpo, para garantirmos que conseguíamos esse olhar, e de que eu me sentia segura nas filmagens. Estes testes depois foram mostrados às mulheres. Desta forma, elas veriam previamente como os seus corpos seriam considerados. Quando falamos e pensamos num cinema documental, é crucial que as pessoas saibam como os seus corpos estão a ser tratados.

Isso transparece do ecrã. É intenso e muito íntimo. Mas também respeitoso da privacidade daquelas mulheres, e nunca erótico. Há corpos e alma. Normalmente o cinema estónio não se alimenta desta nudez emocional. O que mais admiro no filme é que há um equilíbrio entre a intensidade criada e o respeito pelas mulheres a a sua privacidade. No início, pensei que o olhar vinha de um desejo das mulheres em quererem manter o anonimato. Mas depois apercebi-me que não era só isso.
Obviamente que houve quem quisesse manter o anonimato. Criei as sequências com isso em mente. Acredito que a arte da realização está interligada com a capacidade de ouvir e ver o que está mesmo à nossa frente. O mesmo acontece com as histórias que vamos ouvindo. Não conhecia as histórias. Era crucial que fosse criado o espaço onde não se fala sobre o que se passa na sauna de fumo. Para que fosse sempre como penetrar o desconhecido. Sabia apenas que uma senhora tinha tido cancro, mas não sabia se era algo que quereria partilhar. E também não lhe pedi para o fazer.
Ou seja, não houve fabricação propriamente dita.
Não. Para mim, para o director de fotografia e a restante equipa, o nosso foco era criar o lugar onde a experiência real da sauna de fumo a escaldar iria acontecer, onde a temperatura normal vai dos 80 Cº aos 90 Cº, às vezes menos, dependendo de quanto tempo lá ficávamos. Uma sessão normal demorava cerca de quatro horas. Uma vez durou oito, o que foi uma experiência alucinante, até para nós. Assim que entramos no calor, o que vem primeiro à superfície é a sujidade física, só depois sai a sujidade emocional. Temos que estar sempre prontos, fisicamente digo, para garantir a segurança de todos os envolvidos. Para que quem queira sair possa fazê-lo a qualquer momento. Seja para respirar ou beber água. A única coisa que importa é que as mulheres se sintam empoderadas, para que a experiência da sauna possa realmente acontecer, e o que vier à superfície vem. Não teriam que se preocupar com a filmagem, pois já saberiam, teriam aprovado e confiariam na linguagem visual a ser usada. Afinal não é só sobre o que estamos a fazer, mas como o fazemos.
Nós não precisamos de ser iguais. Não precisamos de rezar ao mesmo deus ou votar no mesmo partido político, mas podemos e devemos reunir-nos como acontece na sauna de fumo.
Sem dúvida que funciona. Talvez por causa desse mesmo processo, o filme ganha uma outra dimensão no seu decurso, passando a ser também sobre o acto da produção do cinema: o Eu, o fumo e o feitiço da projecção de cinema. É dirigido ao espectador e deita-se em cima dele. Os seus planos são especialmente transparentes, finos como fumo. Mas depois o filme revela-se multidimensional. Não está só a dar voz a estas mulheres. Há uma transferência, um suar em conjunto: uma catarse. Com isto, não posso deixar de perguntar porque acha que as mulheres continuam a ser alvo de tanto abuso? Não me refiro apenas aos seus corpos, mas ao facto do mundo parecer continuar a ser construído nos ombros do sofrimento feminino.
Faz por isso mesmo muito sentido que o filme tenha sido filmado num espaço confinado, lugar pequeno e escuro, coberto por fumo, na região sudeste da Estónia, este país tão pequeno. Tendo em conta a universalidade destas histórias, destas experiências, desde que acabámos o filme que este continua a viajar pelo mundo fora. Penso que o seu sucesso está intrinsecamente ligado ao sofrimento feminino. Fala dele e sobre ele. A mentalidade patriarcal (onde sofremos) propagou-se de tal forma… É importante salientar que o problema é a mentalidade, e que esta não é contra um certo género, e que estamos todos a sofrer por causa disso. Muitos homens sofrem por causa disso: esta pressão de ser infalível e forte e de evitar a intimidade.
Na Estónia, os homens também vão à sauna de fumo. Prova disso foi quando o filme se estreou nas salas de cinema, ouvi de tantos homens, “porque será que quando nós vamos à sauna de fumo evitamos intimidade? Só falamos sobre a bullshit em vez de nos debruçamos na real shit.” Aí está a mentalidade patriarcal. Uma das primeiras histórias partilhadas que decidimos incluir na linha de montagem do filme reflectia a forma como o primeiro vislumbrar das filhas bebés destas mulheres é um de julgamento; é verificada a aparência física das recém-nascidas. Esta mentalidade foi internalizada de todas as formas imagináveis. O chamado gaze, seja male gaze ou não, esse olhar que objectifica. Precisamos de reconquistar os nossos corpos. Precisamos de nos questionar, “Será que os nossos corpos nos pertencem realmente? E desde o início?” Quando um ser nasce num corpo feminino, nunca nasce numa página em branco. Há tantas condicionantes. E depois disso uma viagem começa, a da recuperação dos nossos corpos, cada uma por si e através do apoio da irmandade.
O elemento da água é o elemento mais importante durante o processo da cura. E ela costumava dizer que quando sofremos traumas, é como se tivéssemos água congelada dentro de nós. A água congelada tem o poder de fluir outra vez, e nós precisamos apenas de calor e segurança para derreter os nossos traumas.
São muitos os pensadores que continuam a reflectir sobre isto. Se regressarmos, por exemplo, à cultura estónia pré-cristã, a sauna de fumo está interligada com a natureza. Na nossa língua, não existe género, não existe ele e ela. Era perfeitamente aceitável na Estónia do séc. XVI ter filhos e ter vários parceiros ao mesmo tempo. A certa altura, e por influência da religião, tudo mudou e agora aqui estamos. As raízes da humanidade, quando associadas à natureza, não estão a reprimir as mulheres. Se voltarmos às mais profundas raízes espirituais, somos capazes de encontrar uma resposta. Talvez tudo se resuma a uma carência de espiritualidade. Nós bem falamos sobre a Mãe Terra, a mãe de todos nós, mas a forma como a tratamos, como a violamos está agora à vista. Há tanto desequilíbrio e falta de harmonia. Há tanto que está errado!
Não é sustentável e temos mesmo que mudar isso. Por isso é que temos que voltar para essa irmandade, apoiarmo-nos mutuamente e compreender finalmente que não temos que ser semelhantes. Nós não precisamos de ser iguais. Não precisamos de rezar ao mesmo deus ou votar no mesmo partido político, mas podemos e devemos reunir-nos como acontece na sauna de fumo. Criar as condições para nos vermos e ouvirmos uns aos outros, e assim interligarmo-nos profundamente com a nossa humanidade, que é, na minha opinião, onde a cura pode começar. Será esse o caminho em direcção ao progresso, e não como tem sido até agora…estamos a matar-nos, a violar-nos.

Diria então que fez o filme com o intuito de provocar essa união?
O que a sauna de fumo faz, antes de mais, é ligarmo-nos a nós mesmos e depois aos outros. Quando não estamos realmente ligados, é porque não contámos a nossa história. Para conseguirmos fazê-lo, precisamos de nos sentir em segurança, precisamos de um lugar seguro, e precisamos de ser ouvidos. Com isso vem, como já disse antes, a coragem de ouvir. Estou a incentivar esses lugares seguros com este filme, e quero mais do que tudo partilhar o que aprendi com a minha avó. O elemento da água é o elemento mais importante durante o processo da cura. Ela costumava dizer que quando sofremos traumas, é como se tivéssemos água congelada dentro de nós. Por vezes encontramo-nos num inverno denso e sombrio, rodeados por lençóis de gelo. Ainda assim, não nos devemos esquecer que a água congelada tem o poder de fluir outra vez, e a sua circulação é o acto da vida, é a energia da vida. Apenas precisamos de calor e segurança para derreter os nossos traumas.
Que palavras tão bonitas, Anna. Obrigada pelo sentimento e pelo seu filme. Só por curiosidade, quão difícil foi filmar com o equipamento no calor extremo da sauna?
Como na sauna de fumo não há chaminé, demora seis a oito horas a aquecer. Colocámos a câmara e as lentes no chão primeiro, e a cada duas horas fazíamos subir o equipamento para se ir ajustando ao calor. Durante a sauna, a câmara atinge temperaturas tão altas que são necessárias luvas ou roupas molhadas para proteger o corpo que a segura. Tínhamos de estar presentes e ser sensíveis uns aos outros emocionalmente, mas também nunca descurar o lado físico, por causa da câmara. Até a câmara estava a passar pela experiência da sauna. Mas sim, a câmara em questão ainda está em funcionamento. Perdemos duas lentes não por causa do calor mas por causa dos danos da água e das partículas do fumo. O nosso objetivo era que as mulheres pudessem salpicar água à vontade sem se preocuparem para onde ia a água, mesmo que isso pudesse danificar a câmara. O importante é que elas estivessem profundamente mergulhadas na experiência.