

8½ (Fellini 8½, 1963) de Federico Fellini, à esquerda, e ANTENA (2025) de Duarte Pedroso de Lima, à direita
Duas imagens que não se pensaria de imediato quando se refere a qualquer um dos filmes. Partilham, no entanto, o seu gosto em alcançar as estrelas, o desconhecido, talvez de outra realidade distante, por entre sonhos e devaneios por concretizar…
O que as une é o pulsar do desejo por quererem ser mais do que são. Ambicionam voar alto, dar asas à imaginação, transmitir algo maior, como o efeito da justaposição de imagens – o cruzamento de realidades.
Contêm uma tensão cardíaca energética que atrai energias invisíveis ao olho nu, navegando pelo ar, por diferentes realidades, que ainda nos são desconhecidas. Esse é o poder do Cinema.
A imagem a preto e branco faz parte de um cenário de um filme dentro de um filme que, no seu ato final, não é concretizado. A outra mostra o nascimento de um zumbido que dá origem à narrativa da curta-metragem e que, no final, destrói tudo à sua volta. O início e o fim em oposição direta.
Uma tem a sobreposição de nuvens por cima da imagem, como se os céus estivessem impressos na ambição do metal, criando a dicotomia do poder humano com a força da natureza.
São, a meu ver, a impressão concreta da ilusão que nos apanha enquanto sonhamos acordados e ambicionamos fugir desta realidade.
O poder da Imagem é o da duplicidade implícita na sua gravação: o concreto, que permanece visualmente, e os seus símbolos, implícitos cognitivamente.
Cada imagem reflete um labirinto no seu interior que nem sempre o espectador se atreve a aventurar. Mas quando o faz, leva-o numa viagem de descoberta.
Duarte Pedroso de Lima
ANTENA passa amanhã, dia 12 de Setembro, às 19h00, no Cinema São Jorge, no âmbito do festival Motelx. A curta-metragem concorre ao Prémio Méliès d’argent – Melhor Curta Europeia 2025.