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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 3

Colo (2017) de Teresa Villaverde

De Carlos Natálio · Em 19 de Março, 2018

Começo franco e bruto. Sendo um admirador confesso do trabalho de Teresa Villaverde – Três Irmãos (1994), Os Mutantes (1998), Transe (2006) são as minhas obras favoritas – digo-vos que este Colo não desperta particularmente a minha atenção. Contudo, gostava de abordar duas questões que o seu visionamento me suscitou, e na resolução destas inquietações, fazer-vos caminhar pelo filme adentro, quiçá até, ultrapassando o solitário e por vezes íngreme caminho do gosto pessoal. A primeira dessas questões é a forma como Colo se relaciona, como encontra o seu espaço, no contexto das restantes abordagens do cinema português ao tema da crise financeira portuguesa de 2010-14. A segunda tem a ver com o trabalho sobre os espaços e a passagem de uma ideia de crise económica a uma crise emotiva, motivada pela ideia da câmara como “aerómetro emocional”.

O país esteve à beira do colapso financeiro e, como muitas vezes acontece, os tempos negros despertam forças criativas. À partida, ver este filme de Villaverde somente em 2018 dá-nos uma ideia qualquer de perspectiva, o espectador pode até levantar a sobrancelha e, em tom sobranceiro, olhar para trás e dizer: “foi mesmo assim?”. Mas esta “distância” deixa-me com outra questão na cabeça. Quer a trilogia de Miguel Gomes, As Mil e Uma Noites (2015), quer São Jorge (2016) de Marco Martins, são obras que procuram estratégias ficcionais ou narrativas para sair da crise. No caso de Colo essa estratégia não existe pois ele parece pegar na “História” um certo tempo atrás, quando a crise se instalava lentamente, como areia movediça. E, voltando ao timing da estreia do filme, não deixa de ser paradoxal que, sendo o mais recente dos três, é aquele onde a crise parece atingir níveis mais intensos e, por isso, a partir de 2018, ameaçar epoquizar-se.

Aproximadamente a meio do filme, numa cena já iluminada a vela, a filha Marta (a genuína Alice Albergaria Borges) pergunta à sua mãe (Beatriz Batarda): “O que é que está a acontecer à nossa vida?” A queda é lenta mas constante: cortaram a electricidade, o pai (João Pedro Vaz) não consegue arranjar trabalho, a mãe tem de fazer turnos duplos, mal se consegue dinheiro para o passe da filha ou outras necessidade básicas. As coisas más sucedem-se umas às outras e quase não se respira o ar da redenção: talvez apenas em pequenos lampejos, como um banho de mar (para limpar o sentido de impureza e imprestabilidade), o pai a comer um grande tomate com sal, Batarda a limpar-lhe os pés feridos, ou um gentil pássaro pousado em corpos despidos. Mas é tudo.

Em Colo, as palavras, as dores, as reacções, também estão em crise e começam, uma a uma, a submergir nesta dolente crónica de um afundamento

O que Villaverde parece ter querido filmar, mais do que uma tomada sociológica de posição, foi a queda de uma família. E o que mise-en-scène vai suportar – como na cena na banheira em que o pai, todo nú, coloca o balde na cabeça –  é essa depressão. Em Colo, as palavras, as dores, as reacções, também estão em crise e começam, uma a uma, a submergir nesta dolente crónica de um afundamento. A mãe, a filha, o pai desaparecem à vez mas não há respostas muito vincadas, elas, como o filme, parecem ir mexendo em lume brando, um torpor narrativo, uma anestesia emocional que – e aqui está aquilo que mais me desagrada no filme – transforma a crise num contexto quase secundário, um monstro meio abstracto que vai rodeando a casa daquela família. Como se Villaverde ficasse “fascinada” com o que acontece nos declínios progressivos de um grupo coeso como uma família, e os detalhes que motivam esse declínio surjam como premissa generalizável. A justificá-lo estão os planos no início, tomados de fora de casa da família, a observar o seu interior – como se estivéssemos no mundo de um Tati sombrio, que perdeu o tempo da sua ironia – ou os vários travellings lentos, geométricos, laterais que nos mostram as personagens de Colo a andar de um lado para o outro, sem ter para onde ir, num desespero lento.

É tempo de falar do espaço de onde Colo emana. A casa de família, que Villaverde diz: “Tem uma respiração própria, parece quase um animal.” Já referi que a dada altura a família fica sem electricidade – e a simbologia de um espaço que vai perdendo lentamente a sua luz é sublinhado também pelo trabalho do já lendário director de fotografia Acácio de Almeida. Mas há mais e aqui reside o melhor da sétima longa da realizadora. Creio que se pode dizer que alguns dos filmes de Villaverde – penso em Três Irmãos (1994), Os Mutantes (1998) e Água e Sal (2001) – giram à volta da noção de família e a câmara funciona como uma espécie de “aerómetro emocional” que analisa a qualidade do ar do ambiente familiar, o ar como elemento chave para uma saudável relação de grupo. Se o ar é muito denso, as pessoas estão demasiado perto, e não se respira bem; se é demasiado rarefeito, não existe suficiente atmosfera que agrege os elementos. Onde quero chegar é que Colo é sobre a perda desse ar. Cedo percebemos que a crise económica se vai transformando numa crise emocional à medida em que a casa-abrigo devém casa-jaula. Os planos picados do alto do prédio cá para baixo (o cenário: os subúrbios de Lisboa, no bairro dos Olivais), isolando a casa do mundo, ou as várias cenas no terraço do telhado, vão indiciando essa perda de ar agregador do espaço da casa, perda de ar de uma família, como se fosse preciso escapar: ou para cima, ou para baixo. E claro, como já disse, mãe, pai e filha vão passando cada vez mais tempo fora de casa, procurando soluções, linhas de fuga, até que a sua ausência seja cada vez menos um problema. O ar rarifica quando a crise torna a vida na casa insustentável.

Villaverde disse a propósito de Colo que ele não é sobre 2010-14. É sobre uma depressão mais vasta, mais estrutural, algo que a qualquer momento permite anunciar a próxima queda. No seu plano final, o recolhimento de Marta junto à cabana do pescador de enguias mostra-nos perfeitamente essa “crise” a abrir-se em relação a uma cronologia. O “colo” que procura, como se entrasse numa “caverna mítica” feita de sonhos e pobreza, faz lembrar No Quarto da Vanda (2000), uma imobilidade, uma escuridão que ameaça tornar-se, portugalmente, ancestral. E do mundo de Pedro Costa à crise recente é um saltinho. Um raccord que vale a pena ponderar.

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2010'sAlice Albergaria BorgesBeatriz BatardaJoão Pedro VazMarco MartinsMiguel GomesPedro CostaTeresa Villaverde

Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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3 Comentários

  • Palatorium walshiano: de 8 de Março a 8 de Abril | À pala de Walsh diz: 8 de Abril, 2018 em 17:21

    […] concílio de palas há que assinalar algumas novidades: a desilusão generalizada em torno de Colo (2017) de Teresa Villaverde e o entusiasmo em redor de Cinema Novo (2016) de Eryk Rocha, a […]

    Inicie a sessão para responder
  • Estados Gerais: “O cinema em Portugal é uma arte burguesa, para não dizer aristocrática” | À pala de Walsh diz: 26 de Abril, 2018 em 14:01

    […] quando, por exemplo, em 2016 eu vi o Colo (2017) e gostei tanto, tanto, tanto do filme, quis que ele fosse mostrado ao maior número de […]

    Inicie a sessão para responder
  • Ricardo diz: 17 de Maio, 2018 em 14:28

    Estratégia ficcional/narrativa de fuga à crise em As Mil e Uma Noites? Nunca algum filme me mostrou a verdade e a crise como esse. Continuo a achar que ainda não conseguimos entender a monumentalidade dessa obra.

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