Ter nascido estragou-me a saúde.
Clarice Lispector
Ao apresentar o seu mais recente Rak ti Khon Kaen (Cemitério do Esplendor, 2015), em antestreia na Cinemateca Portuguesa (a 26 de Abril de 2016), Apichatpong Weerasethakul declarava a jeito de nota introdutória: ‘‘Alguém disse uma vez que quem adormece numa sessão é porque confia no filme. Se dormirem tranquilos no meu, é bom sinal.’’ Em Cemitério do Esplendor o sono é um elemento protagonista: iniciamos o filme no interior de uma escola improvisada como clínica temporária, onde as camas estão repletas de soldados atingidos por uma súbita e misteriosa doença de sono permanente. Filho de médicos, Apichatpong Weerasethakul regressa sucessivamente ao tema da doença (lembremos Uncle Boonmee, Tropical Malady ou Syndromes and a Century). E que possibilidades para estes corpos em suspenso? Todas. A chegada à imobilidade parece, afinal, funcionar como uma libertação: os corpos enfermos curam-se do capitalismo dos ritmos, desembaraçam-se do sôfrego vaivém da jornada de trabalho. É hoje preciso ficar doente para ter tempo para dormir e para sonhar?
O presente texto foi publicado no livro de compilação O Cinema Não Morreu – Crítica e Cinefilia À pala de Walsh. Pode adquiri-lo junto da editora Linha de Sombra, na respectiva livraria (na Cinemateca Portuguesa), e em livrarias seleccionadas.
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[…] Ciências Sociais e Humanadas da Universidade Nova de Lisboa e para apresentar a sua última obra Rak ti Khon Kaen (Cemitério do Esplendor, 2015). Carlos Natálio e Sabrina D. Marques aproveitaram a ocasião e foram ao seu encontro para uma […]
[…] sua vez, o cinema de Apichatpong segue esse lógica, como pode ver-se no seu último filme – Rak ti Khon Kaen (Cemitério do Esplendor, 2015) – em que já não se vislumbra o “sobre-natural”, mas em que este surge integrado […]