Mais ou menos por acaso reparei que na famosa sequência dos beijos cortados pela censura em Nuovo Cinema Paradiso (Cinema Paraíso, 1988) de Giuseppe Tornatore vários dos segmentos surgiam manchados pelas impressões digitais daquele que manipulou os fragmentos de película dados como impróprios. O dedo púdico do censor que quis tapar com o indicador para não ter que olhar para esse horror da humanidade: um beijo carinhoso. E no próprio acto de castrar, o censor deixou literalmente a sua marca. O censor como realizador. A censura como forma máxima do cinema de apropriação.