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Poulet aux prunes (2011) de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud

De Carlos Natálio · Em 17 de Outubro, 2012

Há nos primeiros momentos de Poulet Aux Prunes (Galinha com Ameixas, 2011) uma indicação clara de uma nova experiência na carreira de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud. Os créditos iniciais em animação (hoje é preciso distinguir, portanto diga-se em 2D) terminam com uma descida ao mundo da imagem real para que o filme comece e para encontrar personagens de carne e osso. Esta “descida”, que não é aos infernos, mostra-nos a decisão de passagem da animação à imagem real [que acontece de Persepolis (Persépolis, 2007) a esta segunda longa-metragem] e que não deixa de revestir uma certa ironia. Se bem nos lembrarmos, o crescimento da pequena criança iraniana Marjane durante a revolução no seu país, exorcismo e biografia de infância da própria Satrapi no primeiro filme da dupla, era um objecto muito mais cerrado, negro (até pelas cores) do que alguma vez esta segunda longa-metragem consegue ser.

Caso estranho pois o ponto de partida é semelhante: a adaptação de uma novela gráfica, neste caso publicada em 2004 e que conta os últimos dias de vida em Teerão de um tio músico de Satrapi. Mas então o que se terá “perdido”? Ou que súbita leveza terá ganho o seu universo? Ainda para mais sendo o filme narrado pelo próprio anjo da morte Azrael? Não há uma resposta, mas há um indicador. Na banda-desenhada o caricatural (no sentido não pejorativo) é a matéria-prima em termos narrativos e de pose mas que se dissolve aos olhos do leitor ante a imobilidade da vinheta que é depois preenchida por ele. Ora, a passagem à imagem real, que não pára, não pode parar, abre a questão de como preencher esse caricatural. Essa necessidade sente-se na forma como o tale do homem a quem se lhe partiu o centro da sua vida (o violino, e com ele a sua alma), Nasser-Ali Khan (presença muito competente de Mathie Amalric) diverge sistematicamente para a backstory deste e de outras personagens, para a imagética kitsch ou para sequências de animação ou de paródia.

Essa heterogeneidade entretém mas raramente opera essa operação de enchimento que o filme necessita. Uma excepção talvez seja a sequência perfeitamente bunuelina (até pelos enormes seios) em que Nasser, prostrado numa cama enorme, num quarto negríssimo, é visitado pelo anjo da morte. Aqui, essa deformação onírica comunica com esses processos de densificação do drama. No mais das outras vezes a expressividade do universo de Satrapi (mas também do argumento de Paronnaud) ao chocar com a realidade torna-se num comum exercício de lirismo (às vezes descontrolado) que envolve o drama de violinos partidos e amores desencontrados (Nasser não ama Faringuisse, a esposa, representada por Maria de Medeiros), com toda a carga do homem que desiste de viver e para quem a galinha com ameixas é um sinal de ligação à vida. Ainda que se diga que tudo isto é uma alegoria política de separação face à saída de um país, neste caso o Irão (a amada de Nasser chama-se Irâne).

Se este lugar de lirismo parece já estar ocupado por Jean-Pierre Jeunet e a leveza que ocorreu desde Le fabuleux destin d’Amélie Poulain (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, 2001), diga-se que não há só coração neste Poulet aux Prunes. A utilização do explícito, do décor sumptuoso, do insólito no enquadramento encontram os seus momentos de triunfo à la carte: a neve, nesse plano que acompanha o floco a cair do céu até à boca do filho de Nasser; o fumo do cigarro que ganha vida e sai pela janela da casa da mãe do protagonista numa “fuga da alma”, anunciando a sua morte; a nuvem que transporta o homem que foge da morte na sequência de animação introduzida pela história de Azrael (a melhor sequência do filme). Outras vezes ainda é esse lirismo que sai estilhaçado ante a capacidade que o filme tem de parodiar: as lágrimas de crocodilo do comerciante, a marca de cigarros “Lazare” na mesa de cabeceira de Nasser, ou, evidentemente, a sequência de paródia às sitcoms norte-americanas.

No final de contas, se esses pedaços trazem algum interesse ao filme, o nomeado a Leão de Ouro em Veneza o ano passado, nunca consegue esconder a presença invasiva da banda-sonora de Olivier Bernet, o pouco desenvolvimento de personagens secundárias ou um certo desfasamento entre aquilo que é o drama do protagonista e essa vontade do plano e da imagem de Christophe Beaucarne de mimarem o traço e as composições da banda-desenhada. O resultado é um meio termo estranho como a sensação de comer um prato muito vistoso mas de sabor algo artificial.

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2010'sChristophe BeaucarneIrãoJean-Pierre JeunetMarjane SatrapiOlivier BernetVincent Paronnaud

Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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