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À pala de Walsh
Ossessione (1943) de Luchino Visconti
Críticas, Noutras Salas 0

Ossessione (1943) de Luchino Visconti

De João Araújo · Em 26 de Fevereiro, 2013

Um romance como O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes pode não parecer o mais adequado para o que será um dos primeiros exemplos do neo-realismo italiano. Contudo, Visconti utiliza a obra para encontrar o esquema que lhe permite delinear o argumento, e aproximar-se de uma narrativa noir, para depois dedicar-se ao que realmente lhe interessa. Se Ossessione (Obsessão, 1943) pode ser considerado um protótipo do neo-realismo, isso deve-se ao retrato fiel de uma pobreza desoladora e ao investimento em personagens no fim da corda, sem nada a perder, mas sem muito a ganhar.

Filmado em 1943, ainda durante a segunda guerra mundial, Ossessione foi censurado pelas autoridades, reduzido a uma versão mais curta. O negativo do filme chegou a ser destruído, porém, Visconti conseguiu salvar uma cópia do filme, que daria mais tarde origem à versão agora conhecida. O argumento, inspirado na obra de James M. Cain, adapta a história à paisagem rural italiana, e utiliza a trama criminosa para expandir o interesse nas personagens. Um vagabundo, antigo soldado da infantaria que não consegue arranjar emprego, encontra refúgio num restaurante à beira-mar, após ajudar o dono a reparar o seu automóvel. A mulher do dono do restaurante vive uma existência miserável, devido aos modos rudes do seu marido, e à forma como por ele é tratada, como propriedade. A atracção entre o vagabundo, Gino e Giovanna, a mulher do dono do restaurante, é imediata e inevitável, sugerida logo na tensão presente na sequência que ilustra o seu primeiro encontro. Os dois amantes não demoram muito tempo a planear o assassinato do marido de Giovanna, ansiosos por liberdade e um novo recomeço.

Mas Gino não resiste ao marasmo claustrofóbico do ambiente rural, acabando por fugir para Roma, com Giovanna a preferir a tranquilidade da segurança, ficando para trás. Esta mudança de cenário permite a Visconti voltar a mudar o tom da história, com a introdução de novas personagens, revelando um interesse pelas figuras fragilizadas que sobrevivem à margem da sociedade. Duas personagens, em particular, marcarão o percurso de Gino no filme: um companheiro de viagem, um errante como ele, que o ajuda a perceber que há outros desajustados como ele; e mais tarde uma prostituta, que ao entregar-se incondicionalmente a Gino, permite-lhe um vislumbre do que poderia ser uma vida diferente. Gino regressará para Giovanna, para tentar a sua sorte no meio rural donde fugiu, mas a paz que alcançam é temporária. Nem tudo é o que parece, e a promessa de um final feliz parece sempre ameaçada.

Ossessione é acima de tudo um jogo entre duas noções. De um lado, o romance entre as duas personagens principais, que longe de manter-se num estado perpétuo, sofre várias mudanças de rumo. Do outro lado, a direcção de Visconti, que ao utilizar uma mise-en-scène em que a câmara se movimenta dentro do mesmo plano para criar vários planos, revela diferentes verdades. A encenação de Visconti é obsessiva na forma como mantém ao longo do filme a mesma preocupação estética. Partindo de um ponto inicial, quer a câmara quer os actores vão movimentar-se dentro desse espaço de enquadramento, para que o que parece ser de uma forma, acabe por transformar-se noutra diferente. Um plano que começa com uma imagem aproximada de Giovanna a segurar uma recordação do marido transforma-se numa discussão entre ela e Gino, para acabar com um beijo entre os dois, para voltar à imagem do objecto. Ou então, um plano em que Gino está sentado, entediado, e levanta-se, afastando-se lentamente da porta do restaurante donde surgirá Giovanna, habitando os dois mesmo espaço mas sem se encontrarem; Giovanna irá à procura de Gino para sentar-se a seu lado e conversarem, para acabarem a sequência a caminhar lado a lado em direcção à casa onde começou a cena, em silêncio, sem saberem o que dizer.

Numa mesma sequência, ou até num mesmo plano, criam-se diferentes enquadramentos dentro de uma unidade estanque, para revelar diferentes verdades dentro da mesma imagem, este estratagema é aplicado por Visconti à história para mostrar como a mesma imagem pode ser usada para contar diferentes histórias, conter diferentes significados. Ilustra como uma história de amor pode revelar-se complicada, já que, para Visconti o interesse de Ossessione parece ser dar conta da complexidade das relações humanas, da recusa em aceitar uma visão simples das possibilidades da vida, e de como as imagens podem ser importantes para dar espaço a sentimentos subterrâneos e a tumultos interiores, iluminando essas diferentes possibilidades. Para Visconti, era apenas o primeiro filme.

Ossessione será exibido dia 27 de Fevereiro (quarta-feira), pelo Cineclube Joane, às 21:45 na Casa das Artes de Famalicão

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1940'sLuchino ViscontiNeo-Realismo

João Araújo

"I don't think the film has a grammar. I don't think film has but one form. If a good film results, then that film has created its own grammar" Yasujiro Ozu in "Ozu and The Poetics of Cinema", David Bordwell

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  • Roma città aperta (1945) de Roberto Rossellini | À pala de Walsh diz: 13 de Janeiro, 2015 em 1:22

    […] a um filme, é uma das obras consideradas como mais importantes do neo-realismo, juntamente com Ossessione (Obsessão, 1943) de Luchino Visconti e Ladri di biciclette (Ladrões de Bicicletas 1948) de […]

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