Os Verdes Anos’ é um filme do subterrâneo contra a altura, é um filme sobre a ascensão e o mergulho. Não sou eu quem o diz. É o plano da pedra lançada ao poço, é a cena do elevador de Santa Justa, com a sintomática réplica do tio a propósito “dos tipos que se lançam dali a baixo”, quem o diz é (…) o contra-plongé dos tectos e candeeiros (…). Afinal, todo o filme é a lenta e delicadíssima maturação da sequência final, construída por dois movimentos tão bruscos como lógicos: em primeiro lugar, a subida rápida de Júlio a casa dos pratões de Ilda, (…) a primeira vez que Júlio se comporta de um modo quase alegre (…); em segundo lugar, após o crime, temos a descida abrupta pelas escadas (…) até ao três planos finais, esmagadores, repondo a hierarquia da ordem humana e divina (…).
Manuel S. Fonseca, ‘Paulo Rocha – As Folhas da Cinemateca’, Cinemateca Portuguesa, 2018: 35.