Associo este uso da profundidade de campo (…) com a partilha da experiência do visionamento em que compareci, referindo aquele que me parece ser o aspecto mais louvável do filme: o de ser visualmente democrático. Estava a ter as mesmas reacções que um colega sentado ao meu lado, quando surge um plano (…) com Cleo a descer as escadas de um edifício gasto, sem um corrimão que a acompanhe. Enquanto eu pensava, com um certo nervosismo, na possibilidade da queda da protagonista, o meu colega voltou a ter uma reacção semelhante [riu-se]. Na parte inferior do enquadramento dois patos estavam a acasalar. É então este um dos grandes méritos do filme: a possibilidade de permitir ao espectador o tipo de experiência que pretende levar de certas cenas, onde um conjunto de reacções díspares podem-lhe ser provocadas através da coabitação de diferentes elementos visualmente activos no mesmo enquadramento (…), sem com isso deixar de perder o essencial da narrativa.
Duarte Mata, ‘Roma (2018) de Alfonso Cuarón‘, À pala de Walsh, 13 Dezembro 2018.