Seja na televisão seja no cinema, seja na vertente produtor seja na argumentista/realizador, a grande preocupação de Judd Apatow é o crescimento do indivíduo numa sociedade que cada vez mais o infantiliza. Alguns dos que me lêem estarão já a vociferar para o computador (ou smartphone ou outro gadget qualquer) que um dos grandes responsáveis pela situação é o próprio Apatow. E não deixa de ser verdade que o seu cinema a representa (nos dois sentidos), só que o realizador americano será dos poucos que problematiza esta questão.
Se The 40-Year-Old Virgin (Virgem aos 40 anos, 2005), a primeira longa-metragem, tinha como protagonista um homem de quarenta anos com grandes problemas em se relacionar com os outros, principalmente do sexo feminino (e por isso era virgem), em se comportar como um adulto, This is 40 (Aguenta-te aos 40!, 2012) [e mais uma vez a tradução portuguesa de um título de uma comédia apatowiana é horripilante: para quê aquele ponto de exclamação?], apresenta um casal de meia-idade (coisa pouco habitual numa cinematografia em que só se “vive” até aos trintas) a forçar uma juventude que não tem. No entanto, o que é verdadeiramente notável é o grau de autobiografia numa obra com esta exposição [provavelmente, não será um sucesso tão grande como Knocked Up (Um Azar do Caraças, 2007), do qual sai a parelha Paul Rudd-Leslie Mann, mas ainda assim anda e andará pelas boas do mundo]. Correndo o risco de estar a dar muita importância às presenças da mulher e das duas fllhas do realizador (a fazerem de mulher e de filhas do protagonista), aquele é o casal Apatow. This is 40 pode ser considerado (já foi) um vídeo familiar bastante caro.
É raro ver este tipo de coragem numa comédia, mais ou menos desbragada, para o grande público. Aliás, o fracasso comercial do anterior Funny People (Gente Gira, 2009) já se devia à frustração da expectativas dos espectadores. E, neste filme, apesar das piadas juvenis, dos momentos de absurdo (e há um ou dois deliciosos), dos cameos das estrelas formadas na companhia Apatow (Melissa McCarthy, Jason Segel, a própria Lena Dunham, cuja série Girls é produzida por ele), a maior parte do tempo observam-se as agruras de uma existência a dois (ou a quatro), o desgaste, as quezílias, os ressentimentos, as discussões, o cansaço, as pequenas traições, como num drama de James L. Brooks (de quem Apatow parece ser o sucessor). Desse ponto de vista, This is 40 é adulto ou, pelo menos, sabe enfrentar a citada contradição entre a infantilização da sociedade (e deste tipo de cinema) e a necessária representação das exigências de qualquer relação duradoura. E, por isso, talvez seja mais representativo do que outras tentativas mais “sérias”.
A obra de L. Brooks vem, porventura, à cabeça por causa de Albert Brooks. Ele e John Lithgow interpretam os pais (de Rudd e Mann, respectivamente), origem de boa parte das debilidades dos filhos, assim como estes serão responsáveis pelos defeitos das próprias filhas, como se pode intuir pelo que se vai vendo. Esse é um temas centrais de This is 40, que flui despreocupadamente entre os diversos enredos que tece – não é espartilhado pela habitual rigidez dos argumentos de Hollywood). Não é nenhum Bridesmaids (A Melhor Despedida de Solteira, 2011) [a melhor comédia desta década?], nem Apatow é Paul Feig (não tem a sensibilidade do antigo colega de Freaks and Geeks), nem Mann e Rudd são Kristen Wiig, essa genial e subvalorizada actriz. Contudo, e embora desequilibrado (muito pela extremamente fácil resolução de todos os conflitos, depois daquela festa de aniversário), mereceria a atenção daqueles que, por conta do título e da publicidade, irão logo torcer o nariz.