• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
    • 10 anos, 10 filmes
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Entre o granito e o arco-íris
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Do álbum que me coube em sorte
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Body Double
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 3

Dunkirk (2017) de Christopher Nolan

De Luís Mendonça · Em 19 de Julho, 2017

O inglês foge até à costa. Vê “o lar, doce lar” à distância. Tão perto, tão longe. Por um lado, nada o impedirá de… sobreviver, deixando bem lá atrás o aparentemente capitulado Velho Continente. Por outro lado, ele quer parar para defecar. Mas não, não há pausas para esse género de mordomias. A fuga, para ser bem sucedida, tem de ser heróica; dura e desesperada, mas nem por isso menos heróica. Mas que heroísmo é este, o do soldado que quer defecar, que parece ter abdicado do combate –  esqueça-se o “king & country” por um momento – e que se deixa levar pelo fluxo composto por todos aqueles que se querem ver a milhas do palco da guerra? A batalha de Dunquerque tem esta particularidade de nos contar a história de uma espécie de “Brexit doce-amargo”, um recuo necessário que embalou a defesa e o contra-ataque ingleses que acabaram por fazer a balança da guerra pender para o lado bom. O filme de Christopher Nolan propõe um olhar sobre esta guerra “passiva”, desenrolada em pleno acto de retirada. “Não fizemos nada, apenas sobrevivemos”, diz baixinho um dos soldados ao pisar solo britânico.

Dunkirk (2017) é um filme horizontal, estendido no espaço, mas temporalmente concentrado. O “tique-taque” da música de Hans Zimmer é omnipresente, mas não é mais o “tique-taque” de um relógio que o de um metrónomo. Até os tiros participam na estrondosa e ininterrupta rítmica. Nolan monta o espectáculo da guerra e exalta em pleno filme a sua capacidade para mobilizar os peões ou as peças da grande engrenagem cine-bélica. Ao mesmo tempo, o tempo estilhaça e comprime-se. É mais um gimmick a que Nolan nos habituou desde Memento (2000) e que aprimorou com algum prazer lúdico em Inception (A Origem, 2010).

Pelo ar, pelo mar, por terra. A guerra “joga-se” em todos os tabuleiros. A câmara de Nolan não quer perder pitada, mas também não tem paciência. Quase apetece dizer que também ela não tem tempo para defecar. A jusante da música de Hans Zimmer, as imagens correm, sucedem-se, amontoam-se. Nada se fixa, nem pelo ar, nem pelo mar, nem por terra. Esta é uma estética da saturação, ainda que este seja um filme com poucos diálogos, virtualmente “mudo”. Tão poucas palavras, que ousadia! Mas como explicar tanto ruído? De facto, no lugar das palavras Nolan deixa que o seu filme seja tomado pelo espectáculo estrepitoso da máquina de guerra como máquina do cinema.

Não há personagens em combate ou em retirada, mas peões mobilizados por um director demasiado vaidoso face aos seus muito dispendiosos brinquedos.

É uma estética saturante, infatigável, cheia de “pompa e circunstância”. Por isso, também é uma estética do embasbacamento: “vejam bem o que consigo fazer!” – é o que parece que Nolan grita em cada imagem. O alter ego de Nolan no filme é o comandante interpretado por Kenneth Branagh. Em planos que se tornaram “imagem de marca” do cinema de Nolan (variante da cara spielberguiana), por mais que uma vez vêmo-lo a olhar para o céu. Um relativamente longo push in mostra o rosto incrédulo do comandante a fitar o horizonte. Apetece perguntar: é um pássaro, é um avião? Serão “os nossos” ou é “o inimigo”? Esplendorosa é a visão que a câmara de Nolan nos sugere em off. O contra-campo não é o que Branagh vê, mas o que é, nesta altura, o cinema de Nolan: espectáculo pelo espectáculo, imagens moles alteadas por orquestrações ribombantes, animação permanente numa guerra onde não se conhece a espera (por exemplo, as tais várias horas que separam as marés são referidas mas não sentidas, porque aqui o tempo não dá tempo) ou o desgaste físico (desde logo, as necessidades e sujidade do corpo são aludidas, mas não são dadas a sentir tal a ansiedade do todo-poderoso realizador em maquinar um espectáculo impessoal, limpo e dominical). Apetece lembrar o óbvio a Nolan-Zimmer: não há música sem silêncio, não há instrumentos sem homens.

Não interessam a Nolan nem os seres nem os corpos nem a metafisíca da guerra, ainda que os olhares para o céu pareçam aspirar a esta. Com efeito, entre William Wellman [Battleground (A Grande Batalha, 1949)], Terrence Malick [The Thin Red Line (A Barreira Invisível, 1998)] e até o próprio Steven Spielberg [Saving Private Ryan (O Resgate do Soldado Ryan, 1998)], Nolan sai a perder, por estar sempre demasiado preso a um narcísico embasbacamento com o que consegue fazer com as suas peças. Não é realização, mas logística. Não há personagens em combate ou em retirada, mas peões mobilizados por um director demasiado vaidoso face aos seus muito dispendiosos brinquedos. Da mesma maneira que não é por me gritarem aos ouvidos que ouço melhor, não é por Dunkirk ter muitas e algumas “vistosas” imagens da guerra que este seja vivido como uma experiência da guerra. Foi à distância que o inglês em fuga viu a sua pátria – também eu estive longe de penetrar a guerra ante o matraquear de sons e imagens de Dunkirk.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
2010'sChristopher NolanHans ZimmerKenneth BranaghSteven SpielbergTerrence MalickWilliam Wellman

Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

Artigos relacionados

  • Críticas

    “No Bears”: só há ursos quando os homens assim os legitimam

  • Contra-campo

    “Aftersun”: a tensão suave da memória

  • Cinema em Casa

    “Time to Love”: amor, um caminho interior

3 Comentários

  • marcio "osbourne" silva de almeida diz: 31 de Julho, 2017 em 16:09

    Assisti este filme no dia de sua estreia aqui no Brasil (27/07), nada mal pra um filme de guerra. “Fugindo do Inferno” (1963), Apocalipse Now (1979) com a musica do The Doors
    (The End), todo inspirado no classico “O Coração das Trevas” de Joseph Conrad. Assisti “Alem da Linha Vermelha” – 1998 (muito longo, quase 4:00hs de filme). Assiti tambem as 2 versões de “Nada de Novo no Front” ambas de 1930 e 1979, entre outros!!

    Inicie a sessão para responder
  • Óscares 2018: os filmes em revista | À pala de Walsh diz: 1 de Março, 2018 em 12:18

    […] Dunkirk (2017) de Christopher Nolan […]

    Inicie a sessão para responder
  • Fábio Rocha diz: 24 de Maio, 2018 em 17:52

    Adoro os filmes deste diretor! Eu gosto da crítica, parece muito bem sucedida e sem dúvida uma das grandes surpresas deste filme foi Harry Styles. Alguns filmes de Christopher Nolan geraram polêmica ou receberam bastante crítica e verdadeiros êxitos, acho que a chave é o profissionalismo que tem e além de cuidar de cada detalhe, minha preferida é filme Dunkirk 2017 tem um grande trabalho de produção é evidente em cada uma das suas cenas. Definitivamente um dos melhores filmes do gênero. Considero que todos os aspectos do filme estiveram muitos cuidados.

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • “No Bears”: só há ursos quando os homens assim os legitimam

      3 de Fevereiro, 2023
    • “Aftersun”: a tensão suave da memória

      1 de Fevereiro, 2023
    • “Time to Love”: amor, um caminho interior

      31 de Janeiro, 2023
    • Apocalypse Now: as portas da percepção

      30 de Janeiro, 2023
    • A medida das coisas

      26 de Janeiro, 2023
    • “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

      25 de Janeiro, 2023
    • “Terrifier 2”: ‘gore, gore, gore’

      24 de Janeiro, 2023
    • O sol a sombra a cal

      23 de Janeiro, 2023
    • “Ar Condicionado”: a potência do incerto

      18 de Janeiro, 2023
    • “The Bad and the Beautiful”: sob o feitiço de Hollywood, sobre o feitiço de Hollywood 

      17 de Janeiro, 2023
    • Três curtas portuguesas à porta dos Oscars

      16 de Janeiro, 2023
    • “Barbarian”: quando o terror é, afinal, uma sátira contemporânea

      13 de Janeiro, 2023
    • “Frágil”: apontamentos sobre o cinema da amizade

      11 de Janeiro, 2023
    • “Broker”: ‘babylifters’

      10 de Janeiro, 2023
    • Vamos ouvir mais uma vez: está tudo bem (só que não)

      9 de Janeiro, 2023
    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • “No Bears”: só há ursos quando os homens assim os legitimam

      3 de Fevereiro, 2023
    • “Aftersun”: a tensão suave da memória

      1 de Fevereiro, 2023
    • “Time to Love”: amor, um caminho interior

      31 de Janeiro, 2023
    • Apocalypse Now: as portas da percepção

      30 de Janeiro, 2023
    • A medida das coisas

      26 de Janeiro, 2023

    Etiquetas

    1970's 2010's 2020's Alfred Hitchcock François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.