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Una Mujer Fantastica (2017) de Sebastián Lelio
Cinema em Casa, Críticas 0

Una Mujer Fantástica (2017) de Sebastián Lelio

De João Araújo · Em 31 de Março, 2018

Quando a identidade é uma questão de sobrevivência é natural que as imagens reflectidas ganhem uma importância fulcral, quer sejam de nós mesmos num espelho ou de outras pessoas ao redor em superfícies parecidas. Esse é um tema visual recorrente em Una Mujer Fantástica (Uma Mulher Fantástica, 2017) de Sebastián Lelio, onde os reflexos que surgem ao longo do filme assumem significados diferentes. Quer seja por representarem o modo como a protagonista olha para si, quer seja na maneira como os outros à sua volta reflectem sobre ela as suas ansiedades pessoais, quer seja ainda na forma como o espectador se revê nos acontecimentos do filme e cria assim empatia com a protagonista. Este é um olhar transversal: Lelio parece afirmar que a imagem é uma questão de sobrevivência para todos. Costuma dizer-se que o espelho não mente, e mesmo que possa ocasionalmente dar azo a ilusões de óptica (e o filme joga com isso), quando enfrentamos o espelho olhamos também para um passado.

Una Mujer Fantastica (2017) de Sebastián Lelio

Neste caso trata-se de Marina, a protagonista do filme, uma mulher transgénera a quem muitos fazem questão de chamar Daniel e assim evocar repetidamente o passado, numa sociedade chilena com problemas de conservadorismo. Para Marina, que trabalha durante o dia como empregada de mesa e à noite como cantora num café-concerto, enquanto estuda também para ser uma cantora lírica, quando a sua identidade é constantemente posta em causa, tudo é uma luta. A melhor parte do seu dia ainda são os momentos partilhados com Orlando, um homem mais velho com quem mantém uma relação estável: decidiram há pouco tempo viver juntos.

A actriz Daniela Vega apropria-se do filme com a sua contagiosa ambição de felicidade.

Antes disso, e uma vez que estamos perante um filme polimórfico, que navega entre diferentes géneros que se sucedem, começamos o filme por acompanhar um ponto de vista próximo de Orlando, no seu dia-a-dia. Depois de um detalhe sobre um misterioso envelope, este encontra-se com Marina – a sua primeira aparição é a cantar uma música romântica – para celebrarem o aniversário dela. Quando regressam ao apartamento, durante uma cena de sexo, vemos a primeira imagem reflectida numa janela, que surge aqui como uma representação do afecto e desejo entre os dois, mas cuja simbologia terá repercussões mais tarde.

A seguinte imagem a surgir reflectida joga precisamente com esta anterior. Numa sobreposição de duas imagens, vemos Orlando a ser socorrido por uma equipa de emergência numa cama de hospital enquanto Marina observa do outro lado da porta, e as duas imagens fundem-se numa só: se a primeira representava a união entre Marina e Orlando, esta segunda revela o abandono-separação entre os dois, porque revela também o momento em que Marina começa a ser afastada pela família e amigos de Orlando. A história do filme é assim uma história de luta contra o esquecimento, contra o apagão de uma parte da história, contra as pessoas que estão sempre a dizer a Marina o que ela não é, o que ela não pode ser, o que tem de ser – e esta a olhar constantemente para a sua imagem reflectida, que diz-lhe que ela pode ser quem quiser.

Una Mujer Fantastica (2017) de Sebastián Lelio

Sebastián Lelio assumiu em diferentes entrevistas que quis contar a história de uma mulher tránsgenera, e todas as complexidades que essa condição acarreta numa sociedade conservadora, através de um “gender-fluid film”, um filme sem género definido, que move-se entre diferentes estilos, para equivaler a protagonista e a estrutura do filme. O filme, que começa por ser próximo de um romance, atravessa as estruturas gerais de diferentes estilos, como o filme de suspense ou o thriller hitckcockiano, a comédia absurda com toques fantasiosos à Almodóvar ou o drama convencional, como um verdadeiro filme polimórfico. Lelio afirma mesmo que não queria filmar esta história seguindo a abordagem típica de um estilo próximo do realismo social, que na sua interpretação, apresenta a realidade como algo demasiado sombria e triste. Porém, este é o ponto menos forte do filme: não estará assim Lelio a dizer também que é preciso embelezar a história, pontualmente fugindo da realidade, para tornar esta interessante, menosprezando o poder do argumento ou dos actores? Desta forma, a tensão criada num determinado momento com o mistério do que aconteceu ou qualquer tentativa de aproximação emocional à personagem acabam por ser desmentidas pela sequência de fantasia seguinte ou desmontadas pelas mudanças sucessivas de estilo do filme. É assim um exemplo de um filme que tenta ser um pouco de tudo e acaba por ser pouco de nada.

Ainda assim, Una Mujer Fantástica é prova que por vezes os filmes podem fugir ao controlo da visão do seu realizador. Se a tal fluidez entre géneros acaba por criar uma certa distância ou apatia em relação ao destino da história, ou uma barreira entre a sentimentalidade do filme e o espectador, esse muro é derrubado por Daniela Vega, a actriz que interpreta o papel de Marina. Através da sua interpretação feroz de uma personagem em fuga silenciosa, que perante um choque fecha-se mas perante a intimidação não se deixa derrotar, Vega apropria-se do filme com a sua contagiosa ambição de felicidade. Vega acaba por resgatar a atenção para a história e centrar a mensagem não no estilo do filme mas na resiliência da sua personagem. Mas é bem possível que seja apenas uma ilusão, ou uma reflexão do que queremos ver.

***

Este texto continua a rubrica Cinema em Casa onde regularmente o À pala de Walsh fará os destaques de lançamentos DVD/Blu-Ray /VOD no mercado nacional. Una Mujer Fantástica pode ser visto em streaming na mais recente plataforma de VOD nacional, o Filmin.

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Alfred HitchcockDaniela VegaPedro AlmodóvarSébastián Lelio

João Araújo

"I don't think the film has a grammar. I don't think film has but one form. If a good film results, then that film has created its own grammar" Yasujiro Ozu in "Ozu and The Poetics of Cinema", David Bordwell

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