• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
    • 10 anos, 10 filmes
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Entre o granito e o arco-íris
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Do álbum que me coube em sorte
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Body Double
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Fahrenheit 11/9 (2018) de Michael Moore
Críticas, Em Sala 3

Fahrenheit 11/9 (2018) de Michael Moore

De Bernardo Vaz de Castro · Em 4 de Novembro, 2018

Talvez seja mais fácil encontrar cinema no Netflix do que neste último filme de Moore. Segundo a prédica actual, são as séries que transformam o mundo. Mas este discurso que parece retomar as antigas pretensões de um Godard ou Rossellini, são no entanto o seu inverso. Enquanto estes pretendiam levar o cinema à televisão, é a televisão que neste momento chega ao cinema. A própria experiência cinematográfica que já havia sido destabilizada com a introdução do VHS e a possibilidade de reproduzir infinitamente e parar a belo prazer do espectador, é hoje o centro de toda a experiência. Porque actualmente os objectos são vítimas de uma outra lógica económica, a da atenção. Tudo está organizado segundo um princípio de condição e não de possibilidade. A experiência que resulta desta inscrição da condição, destabiliza a ideia que há duas décadas atrás se oferecia apenas como possibilidade. Parar ou reproduzir novamente, voltar atrás ou avançar, era apenas isso mesmo, uma possibilidade técnica, nunca um princípio determinístico inscrito na estrutura de um filme. Pelo contrário, hoje esse princípio está inscrito e portanto reduzir, aglutinar e fragmentar são conceitos elementares à criação.

Fahrenheit 11/9 (2018) de Michael Moore

Moore parece acreditar que é impossível voltar a reproduzir uma estrutura coesa semelhante à dos seus anteriores filmes, como é o caso de Fahrenheit 9/11 (Fahrenheit – 11 de Setembro, 2004) ou de Bowling for Columbine (2002), tendo optado pela lógica simplista que já anteriormente Michael Moore in TrumpLand (2016) era refém. Moore limitou-se a cozer uma manta de retalhos e portanto sobre o signo dos EUA, a contaminação por chumbo em Flint, a manifestação dos professores por melhores condições salariais, a insurreição dos estudantes contra as armas, a ascensão da nova esquerda no partido democrata, convivem num mesmo objecto e sem aparente contradição ou impossibilidade. Não há uma única ideia de montagem, porque esta se tornou dispensável no circuito comercial. O que atraí actualmente as imagens já não são outras imagens, mas antes o discurso que é possível estabelecer entre elas. Portanto o flop comercial que este filme representa para Moore não deve colocar em causa a sua estrutura, mas antes a saturação que o tema discursivo é vítima. Moore não soube compreender que o seu filme era já passado antes mesmo de estar concluído.

Numa era onde predominam as imagens sem densidade, prontas a serem consumidas sem questionamento, assim se oferecem também as imagens de Moore e de tantos outros bem-intencionados cineastas, fazedores de séries e criadores televisivos. O que estes novos produtores acreditam é que a imagem enquanto estrutura autónoma perdeu a sua força transformadora e portanto o peso do discurso deve recair novamente sobre a palavra. Mas se o discurso é refém da temporalidade mediática, toda a imagem revela-se saturada e expõem consequentemente a obsolescência ao qual o discurso está sujeito.

É um paradoxo curioso pensar que a oralidade num mundo onde apenas se repetem chavões como “empreendedor”, “inovação” ou “viral” e se visa reduzir a circulação das palavras ao mínimo (tal como num pesadelo orwelliano), a palavra tenha conquistado novamente a primazia do lugar. Obama que é contemplado neste filme, é talvez o primeiro de todos os redentores discursivos ao contrariar as suas imagens através de um polimento locutivo (o arauto da democracia, contradiz as imagens de bombardeamentos a civis ou a expulsão recorde de emigrantes através do seu dom discursivo). O próprio Trump irá servir-se desta mesma lógica, quer nos seus inflamados tweets, quer através do seu prolixo discurso (toda a palavra em Trump é a tentativa desesperada de suster uma imagem que o contradiz. Por exemplo, a repetição sistemática de “biliões” no seu discurso e a imagem do homem de sucesso que lhe escapa a cada falência).

Portanto o flop comercial que este filme representa para Moore não deve colocar em causa a sua estrutura, mas antes a saturação que o tema discursivo é vítima. Moore não soube compreender que o seu filme era já passado antes mesmo de estar concluído.

Já não são as imagens que restam ou Moore não seria capaz de aglutinar num mesmo filme Hitler, Trump, Obama, um atropelamento brutal, um tiroteio num secundário ou uma parada de neonazis. Estas imagens são a microestrutura que estão sujeitas à macroestrutura dos episódios unidos pelo discurso. Invocar a imagem de Hitler para falar de Trump reduzindo-a a um exercício cómico (como ele o faz ao sobrepor a voz de Trump sobre as imagem de Hitler num comício, resultando num episódio unicamente caricato para quem assiste a esta infantilização), torna a operação num jogo inconsequente porque enquanto demoniza Trump, retira um certo peso a Hitler. Este método aparentemente inofensivo do qual nos socorremos do passado para analisar o futuro, é responsável por um certo branqueamento histórico. Hitler corre o risco de em breve ser só mais uma imagem. É a imagem que actualmente está em risco, não a palavra. Porque aqueles que vociferam contra o «politicamente correcto» alegando uma censura discursiva, recorrem à pluralidade linguística mais néscia para afirmar a sua possibilidade de dizer.

Moore ao alertar para os perigos do populismo e das suas reminiscências com o passado fascista, não soube compreender que inscrevia a violência nesse mesmo território populista ao popularizar ainda mais as imagens (as imagens de arquivo de que serve fazem parte das imagens já difundidas e repetidas até à exaustão pelos média e nas redes sociais. Não há uma imagem que rompa com a banalização à qual a imagem esteve sujeita desde o início da sua circulação). Talvez este exercício de Moore seja um importante sinal (o único, na verdade) a reter: o apogeu de um fenómeno – a cultura da imagem – é também o início claro da sua decadência. Estamos já a sustentar as imagens com palavras e se as palavras não resistem porque são sempre passado, pouco matéria há para pensar o futuro. Infelizmente a esperança que o filme tenta veicular, é também a de um futuro sem futuro porque tudo aquilo é já passado.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
2010'sJean-Luc GodardMichael MooreRoberto Rossellini

Bernardo Vaz de Castro

"Il n'y a pas de plus profonde solitude que celle du samourai si ce n'est celle d'un tigre dans la jungle... peut-être..." (Le Bushido)

Artigos relacionados

  • Críticas

    “No Bears”: só há ursos quando os homens assim os legitimam

  • Contra-campo

    “Aftersun”: a tensão suave da memória

  • Cinema em Casa

    “Time to Love”: amor, um caminho interior

3 Comentários

  • Nádia Fareniente diz: 8 de Novembro, 2018 em 1:02

    A retórica bacoca desta crítica parte do presuposto de que Michael Moore é um cineasta. Moore é muita mais que isso, é um activista, que faz filmes de urgência e de denuncia e que dá a cara por eles. Este é um dos filmes mais importantes que fez desde Roger and me e Bowling for columbine, o sensacionalismo, a saturação, a falta de ideias na montagem são substituidos por uma coisa que o Bernardo não tem… Tomates… Grande abraço

    Inicie a sessão para responder
    • Bernardo diz: 9 de Novembro, 2018 em 16:32

      Já a cara Nadia, além de desprovida de educação ainda é desprovida de outra coisa, inteligência. Isto é um site de crítica de cinema e aqui são avaliados filmes. Lá porque concorda com Moore, tal como eu, não faz/torna este objecto num bom documentário. É uma valente merda para ser honesto e grosseiro tal como foi na sua apreciação. Próxima vez que decida partir em campanha porque a internet assim o permitiu, não se esqueça onde está. Isto é o site apaladewalsh e não o esquerda.net. E visto que está tão interessada em comentar as apreciações negativas em relação a este filme, vá ao site do Observador onde consta uma crítica com imensos “tomates” desse grande revisionista histórico do holocausto chamado Eurico de Barros. Acho que lá também confundem crítica cinematográfica com propaganda política. Cumprimentos

      Inicie a sessão para responder
  • Palatorium walshiano: de 2 de Novembro a 11 de Dezembro | À pala de Walsh diz: 11 de Dezembro, 2018 em 18:38

    […] Nasce Uma Estrela, 2018) de Bradley Cooper, Halloween (2018) de David Gordon Green, Fahrenheit 11/9 (2018) de Michael Moore e Venom (2018) de Ruben Fleischer. Por fim, destaque para um dos filmes […]

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • Não à blindagem

      6 de Fevereiro, 2023
    • “No Bears”: só há ursos quando os homens assim os legitimam

      3 de Fevereiro, 2023
    • “Aftersun”: a tensão suave da memória

      1 de Fevereiro, 2023
    • “Time to Love”: amor, um caminho interior

      31 de Janeiro, 2023
    • Apocalypse Now: as portas da percepção

      30 de Janeiro, 2023
    • A medida das coisas

      26 de Janeiro, 2023
    • “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

      25 de Janeiro, 2023
    • “Terrifier 2”: ‘gore, gore, gore’

      24 de Janeiro, 2023
    • O sol a sombra a cal

      23 de Janeiro, 2023
    • “Ar Condicionado”: a potência do incerto

      18 de Janeiro, 2023
    • “The Bad and the Beautiful”: sob o feitiço de Hollywood, sobre o feitiço de Hollywood 

      17 de Janeiro, 2023
    • Três curtas portuguesas à porta dos Oscars

      16 de Janeiro, 2023
    • “Barbarian”: quando o terror é, afinal, uma sátira contemporânea

      13 de Janeiro, 2023
    • “Frágil”: apontamentos sobre o cinema da amizade

      11 de Janeiro, 2023
    • “Broker”: ‘babylifters’

      10 de Janeiro, 2023
    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • Não à blindagem

      6 de Fevereiro, 2023
    • “No Bears”: só há ursos quando os homens assim os legitimam

      3 de Fevereiro, 2023
    • “Aftersun”: a tensão suave da memória

      1 de Fevereiro, 2023
    • “Time to Love”: amor, um caminho interior

      31 de Janeiro, 2023
    • Apocalypse Now: as portas da percepção

      30 de Janeiro, 2023

    Etiquetas

    1970's 2010's 2020's Alfred Hitchcock François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.