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La folie Almayer (2011) de Chantal Akerman

De Carlos Natálio · Em 25 de Outubro, 2012

É interessante pensar a forma com dois artistas podem a dada altura intersectar-se num caminho, num universo de preocupações. Chantal Akerman leu Almayer’s Folly: a Story of an Eastern River, o primeiro romance de Joseph Conrad escrito em 1895, e imediatamente teve vontade de falar dessa “história de amor” presente no romance que liga o pai, Almayer, europeu a viver nas Ilhas Orientais Holandesas, à filha, Nina, também ela fruto de um movimento de intersecção, desta feita de culturas.

Quem conhecer um pouco da obra de Chantal Akerman sabe que a importância da família (alguns dirão, incrementada pela herança judia), atinge pontos de ambiguidade que servem antes do mais para falar na inexistência de barreiras culturais ao amor e à atracção sexual. Basta recordar a personagem do camionista em Je, Tu, Il, Elle (I, You, He, She, 1975) ou das cenas de reencontro de Anna com a mãe em Les Rendez Vous D’Anna (The Meetings of Anna, 1978). Por outro lado, e discorrendo ainda sobre esse encontro Conrad/Akerman, dir-se-ia que o escritor nesta altura ia ainda a caminho de fabricar a loucura na relação com a natureza, com os espaços: aquela presente em The Heart of Darkness, a que mais frutos deu no cinema como sabemos. Quando Akerman resolve neste seu último filme adoptar o romancista polaco havia também esse interesse pela folie um estado patológico que pode nascer de um amor obsessivo por exemplo mas que penetra por inteiro num ser humano, arrasando-o.

Sobre essa loucura convém recordar as palavras e gestos de Chantal Akerman que apresentou o filme há uns dias em Portugal em ante-estreia, a propósito da retrospectiva que o Doclisboa lhe dedica este ano. Pôs a mão na cabeça e levou-a daí ao peito e disse que o cinema devia passar pela cabeça e pelo coração. E que quando foi filmar ao Cambodja se deixou levar pelo espaço e que em muitas situações (em que normalmente filmaria de forma mais rigorosa, com mais takes) quis obter uma certa fluidez que tem a ver com a vida, com o sentido de urgência no aproveitamento do espaço. São curiosas estas palavras na medida em que Almayer (Stanislas Merhar), holandês que se vê obrigado a viver no seu posto comercial no terceiro mundo e a casar com uma mulher local que não ama (de quem tem uma filha, Nina) tem sobretudo um dilema de classe cultural que assenta nos estereótipos de raça. Ele sente-se branco e sente a esposa como negra. Isto é: o factor de loucura não tem necessariamente a ver com o espaço, com a natureza [e nesse sentido, percebemos quando Akerman declara a influência de Tabu: A Story of the South Seas (Tabu, 1933) de Murnau] mas sim com o objecto do seu amor “baralhar” as cores da sua vida, é que Nina é branca e negra. E eis-nos chegado ao passe de mágica de La folie Almayer (A Loucura de Almayer, 2011) ou à conversão da loucura Conrad em loucura Akerman: a natureza nunca é um espaço de agressão (como em Herzog por exemplo) e há antes um dispositivo cinematográfico que permite trabalhar o velado do estado de obsessão. Por um lado, uma irrisão da narrativa que explica (há ao invés um guiar quase sensorial do filme pelas personagens acessórias: os criados mas também a esposa). Por outro lado, a inacessibilidade da loucura (como do amor: quando nos apaixonamos esse objecto é o outro ou a nossa falta?) dada através dos planos longos, de uma certa teatralidade, como se o presente fosse um momento interminável no interior do qual a obsessão gira e para a qual não há libertação aparente.

Após a partida da sua filha com o jovem amante, o último plano do filme, longo, deixa Almayer sentado na sua casa com essa tarefa impossível: ter de esquecer a sua filha antes que chegue a eternidade. Assistimos assim à morte de um projecto de manipulação e possessão masculina sobre a mulher [nesse sentido, La Folie é uma “continuação” sub-textual de La Captive (A Cativa, 2000)] e ao encerramento circular do filme que mata “culturas” através das suas pessoas do início do filme (a sequência da karaoke) ao seu fim.

Chegados a este ponto algo desorientados digo-vos que La folie Almayer talvez não seja o melhor filme para começar a ver Chantal Akerman mas que é sem dúvida uma belíssima obra que resiste a qualquer armadura teórica que contra ela se avance. É que o cinema de Akerman é enorme, um mundo sibilino que avança por todos os espaços revendo-os a um filtro individualíssimo de liberdade e ânimo. Como disse a própria realizadora uma vez para se desembaraçar da etiqueta do feminismo: “I’m not making women’s films, I’m making Chantal Akerman’s films”.

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2010'sChantal AkermanF. W. MurnauJoseph ConradLoucuraWerner Herzog

Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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