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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 2

Los amantes pasajeros (2013) de Pedro Almodóvar

De Carlos Natálio · Em 17 de Abril, 2013

Quem segue a carreira de Pedro Almodóvar sabe que, após a natural transição das comédias kitsch sexuais (a mostrar a tessitura emocional da Espanha dos anos 80 e 90) para o rocambolesco dramático e o melodrama, se seguiu um período de “afundamento” onde a máquina dos sentimentos e das lágrimas ameaçava começar a rolar já em seco. Esse nó negro, repetido, sentiu-se sobretudo com Los abrazos rotos (Abraços Desfeitos, 2009) na repetição de esquemas dramáticos mas já havia pistas em Volver (Voltar, 2006). Já aí se falava da necessidade de um regresso que ao caso era às “cosas de mujeres”, à iconoclastia feminina e claro à sua mulher de sempre: a sua mãe.

Com La piel que habito (A Pele que Habito, 2011) não havia um regresso mas sim uma tentativa de exploração do thriller negro, série B, com influência de George Franju. A entrada num universo de criação frankensteiniana, com Banderas como louco cirurgião plástico, não foi um território em que se movesse com à-vontade, demasiado preso que estava aos dramas familiares e conflitos de género. Mas então de que pele importava apropriar-se para sair desse tom dramático excessivo sem drama suficiente que lá coubesse dentro? Talvez a pele que veste mais naturalmente e que aliás o deu a conhecer como cineasta: a comédia, assim estilizada, em que a densidade viesse por acréscimo da gargalhada e do detalhe mundano.

A estrutura teatral de Los amantes pasageros (Os Amantes Passageiros) – uma comédia aeronáutica em que surgem, em microcosmos de um grupo de passageiros a bordo de um avião em primeira classe a caminho do México, os dilemas da sexualidade e da crise económica (em contexto latino, claro está) – permite precisamente esse passo de magia. Hélas: a sua profundidade está (sempre esteve) à superfície, no que é passageiro. Desde o genérico inicial com uma versão do “Für Elise” de Beethoven em ritmos de cumbia peruana percebemos que a liberdade e o prazer com que Almodóvar realiza este pequeno filme o vão colocar automaticamente como um “filme de pausa” na sua carreira de singelo autor. Ora, nada mais errado.

Há uns anos, a propósito de outra obra “menor”, Una mujer sin amor (1951) do também espanhol Luis Buñuel (que considerava ser este o seu pior filme) Bénard da Costa escrevia que “(…) às vezes, as obras menores (precisamente porque permitem outro tipo de atenção, menos presa ao argumento) esclarecem melhor sobre as virtualidades do estilo”. Aqui talvez nem seja caso para tanto, pois este não é um mau filme. Contudo, o seu aparente desinvestimento na peripécia dramática fazem com que só muito remotamente possamos falar numa metáfora social. Claro que nesta espécie de encontro de amigos que começa logo com o cameo inicial de Penélope Cruz e Antonio Banderas há personagens que tipificam: o banqueiro na iminência de ser preso, a vidente trintona que ainda é virgem, os três hospedeiros de bordo bichas, o piloto homofóbico, o piloto casado com uma mulher e filhos mas homossexual e por aí fora. Mas como refere uma das personagens no filme “para mim qualquer tecnicismo é uma forma de mentira” e isso Almodóvar faz por contrariar. O avião que nunca vai chegar ao destino e que voa em círculos sobre Espanha à espera de uma oportunidade para aterrar permite que o delírio kitsch e gay (alegre e homossexual, os dois num) espere Godot e se imponha como verdade. E depois do tecnicismo continua a emergir sempre esse lado de verdade, de prazer, que recusa a verdadeira acção (os insólitos planos do aeroporto deserto no final) e com ela, o filme grande. O passageiro, a qualidade daquele que passa, que é a enorme “menoridade” desta obra do cineasta espanhol, está sobretudo nessa visão refrescantemente aberta da sexualidade, na coreografia da alegria e da vitalidade (a cena em que os hospedeiros cantam e dançam “I’m so excited” das Pointer Sisters), a queda de um smart phone em grande plano, etc. E deixamos que o espectador pense que lugar simbólico e fundante tem, no cinema de Almodóvar, esse acto de telefonar a alguém e ouvirmos as respostas do eu e do tu como sucede com as personagens deste voo.

Se exploramos essa relação entre o passageiro e o que fica, entre o que é menor e o que é mais profundo, entre os que não saem do mesmo lugar mas progridem, percebemos como Los amantes pasageros consegue através da presença física das personagens, da falta de ambição, filmar o que de mais pessoal e etéreo existe: o gosto pela vida. E finalmente, arriscamos, a uns anos de distância, esses planos do aeroporto vazio terão a mesma inexplicabilidade na carreira de Almodóvar que Ava Gardner tem em Mogambo (1953) de John Ford ou a singeleza cruel dos planos dos mortos em Flying Leathernecks (Inferno nas Alturas, 1951) de Nicholas Ray. Isto para ficar apenas nos achados dos ditos “filmes menores”.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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2 Comentários

  • Julieta (2016) de Pedro Almodóvar | À pala de Walsh diz: 25 de Setembro, 2016 em 14:50

    […] a reagir, como podem, à fuga, ao coma, à doença, à traição, à morte dos outros. São todos habitantes-amantes-passageiros dos quais o realizador se limita a  extrair uma imagem da vida como descoincidência e de uma […]

    Inicie a sessão para responder
  • Dolor y gloria: “o meu filme dava uma vida” | À pala de Walsh diz: 1 de Setembro, 2019 em 14:43

    […] melodrama, depois de nos últimos anos ter-se dedicado a experimentar o thriller, ou a reabitar a comédia e o drama “sério”. Dolor y Gloria é antes um filme sobre o cinema como instrumento […]

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