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“Don’t Worry Darling”: o despertar da alegoria

De Susana Bessa · Em 27 de Setembro, 2022

A fábula revela sempre uma lição aparente, mas muitas vezes esquecida. Até aqui tudo bem. No caso de Don’t Worry Darling (Não Te Preocupes Querida, 2022), a desvalorização da vida da mulher chega até nós com mais ênfase fora do contexto do filme. Não estarei errada em assumir que o circo mediático que tem circundado a segunda longa-metragem de Olivia Wilde será uma das principais razões que já terá ou irá ainda despertar o interesse do espectador no filme. Não devia. Há mais. Mas tal como a ex-editora da revista Empire, Terri White, o fez no início do mês através da sua newsletter, também eu me questiono se este reduzir do seu projecto a matéria corriqueira não será só mais uma forma de evidenciar a misoginia insuflada de que a actriz, realizadora e argumentista tem sofrido, misoginia esta ilustrada nos vários códigos e símbolos do filme. Como se de um teste se tratasse! Se sim, este sai do outro lado a confirmar como tudo permanece um risco para as mulheres, especialmente para aquelas que têm vindo a ganhar o impulso necessário para assumir posições de chefia na indústria.

Don’t Worry Darling (Não Te Preocupes Querida, 2022) de Olivia Wilde

Depois de Booksmart (Booksmart – Inteligentes e Rebeldes, 2019), a comédia que dá a volta circular ao género do teen movie de que Hollywood tanto precisava – uma espécie de Superbad (Super Baldas, 2007) com personagens mais compostas e arcos narrativos mais empáticos -, Wilde sobe o degrau para os anos que se seguem e foca-se num casal apaixonado e na dinâmica de uma vida a dois. Estamos nos anos 1950 no árido deserto norte-americano do Nevada. Alice (Florence Pugh) e Jack Chambers (Harry Styles) vivem no Projecto Vitória, uma comunidade experimental utópica, onde o verão parece ser eterno e tudo é simétrico e hiper-estilizado. As mulheres são donas de casas e/ou mães, e ocupam os seus dias com limpezas, aulas de ballet, passeios cénicos de eléctrico e cocktails ao pé da piscina, enquanto os maridos trabalham. Essencialmente, um pesadelo onde a ordem reina. Mas ninguém parece ver isso. As festas, os vestidos, as casas são policromáticas e sumptuosas à la Mad Men. Brilham de tão imaculadas e distraem até os mais perceptivos, graças aos pós de pir-lim-pim-pim do maravilhoso director de fotografia, Matthew Libatique [Requiem for a Dream (A Vida não é um Sonho, 2000), The Fountain (O Último Capítulo, 2006)]. Mas onde existe perfeição existe a dúvida que a ameaça. Algo está muito errado ali, em Vitória e com o seu CEO, Frank (Chris Pine), inspirado pelo populista guru de extrema-direita Jordan B. Peterson que vê o feminismo como algo contra-natura. Primeiro, Margaret (Kiki Layne), uma das mulheres na comunidade, lança a faísca com o desaparecimento do seu filho, mas não é ouvida. Enquanto isso, Alice não consegue parar de trautear uma canção. E depois um avião despenha-se no meio do deserto na zona proibida, e esta sobe até lá…o fogo é, a partir daí, ateado.

Don’t Worry Darling tem, na sua génese, o desejo de expelir a revolta. Segurado pelos fios da ambição Hollywoodiana, não é, ao contrário do que possa parecer, um filme de grandes ideias. É a história típica dentro da fórmula padronizada que já vimos e vamos continuar a ver. “Ninguém faz perguntas. Não podemos continuar aqui, Alice”, “Eles estão a mentir sobre tudo”, “Tens de me ouvir” são capítulos que ascendem à barriga do problema. Quando juntos, os vários pedaços formam nada mais do que um guia sobre o feminismo 101. Uma multitude de clichés e analogias – primeiramente introduzidas na personagem principal para evidenciar como esta começa a diferir do normal – atinge a exaustão ainda o filme não concluiu o primeiro acto. Alice não consegue respirar (é compreensível). Vê-se debaixo de água num anúncio de televisão sobre Vitória, fica entalada entre uma janela e uma parede e sente a necessidade de enrolar a cara em película aderente só para sentir o alívio que é arrancá-la. Está tudo ali. A tentativa de silenciamento, a loucura e histeria femininas, a corrida desenfreada o mais longe possível do patriarcado, a procura pela liberdade, pela escolha na vida da mulher, do corpo à alma. Então porque é que o recordo com tanta unidimensionalidade? 

Se os personagens não parecem estar vivos e os seus corações não batem e tudo isto já foi dito melhor e com mais fervor antes, a bola de neve que Wilde tenta apanhar com as próprias mãos num dia de Verão é real.

Enfeitado de filme género de ficção científica retro, onde Wilde quer, na verdade, chegar é ao neo-terror de Jordan Peele em Get Out (Foge, 2017). Aquela sátira que, à primeira vista, aparenta ser inócua, e vai-se aos poucos revelando um objecto consciente de uma complexidade imensurável…A sofisticação de uma viagem dessas que lança as explosões e os riffs astutos com a calma de um experiente cowboy de arma empunhada e revela o seu controlo absoluto para com a antecipação-revelação hitchcockiana. É precisamente aí que tudo se desmorona em Don’t Worry Darling. Uma hora para a luta de Alice começar. Quase uma hora para a luta de Alice decorrer. E apenas 5 minutos para a entrega do mistério na íntegra que tem dificuldade em ser recebido de tão forjado que se faz sentir. Não quero falar de previsibilidade (claro que o é, mas isso pouco importa num filme de género), mas em vez disso sublinhar que o que provoca a indiferença é a falta de manipulação de expectativas no espectador, consequência directa da fraqueza da ondulação visual de que todo o filme padece – saber que não é parar, mas arrancar em frente que é uma ciência.

Florence Pugh, actriz de uma vivacidade incomparável, não está tão presa como é passada de um lado para outro num submundo que essencialmente cheira a pó queimado, e nem ela consegue disfarçar que tudo isto é a acumulação de elementos espalhados por vários filmes americanos, ao longo dos anos. Get Out + The Stepford Wives (Mulheres Perfeitas, 2004) + The Island (A Ilha, 2005) + The Truman Show (The Truman Show – A Vida em Directo, 1998) + The Matrix (Matrix, 1999). Essencialmente, nunca conhecemos Alice que, suspeito, era também onde Wilde queria chegar. Eu segui a sua luta com entusiasmo, vendo-a batalhar de perto com um Harry Styles inseguro, ao longo de duas horas langorosas, numa ideia de mundo por confeccionar, ali com o propósito de ser filmado, sabendo que Don’t Worry Darling é um agradável filme-instrumento e Alice a representação da mulher delatora que o empurra para a frente.

No seu rescaldo, é interiorizado como a narrativa apalpa o condicionamento social, a utopia/distopia huxleyana, a exaustão capitalista, passando pelo encontro/escape/arma que continua a ser a internet, e os jogos de poder autocráticos do patriarcado que têm vindo a dar as mãos à ascensão de ideologias extremistas um pouco por todo o lado no mundo. Tudo isto está presente, é inocultável e avassalador. Se os personagens não parecem estar vivos e os seus corações não batem e tudo isto já foi dito melhor e com mais fervor antes, a bola de neve que Wilde tenta apanhar com as próprias mãos num dia de Verão é real e vê-se representada no mediatismo em volta do filme, que em nenhum momento está preocupado com o trabalho ou a sua qualidade.

Don’t Worry Darling nunca encontra os pulsares tensionais da sua fábula, ainda que faça da experiência cinemática um acto político, abafado mas está lá – o perfeito filme a ver com alguém que ainda não se conhece bem. Assumir que Alice é, afinal, uma personificação da própria Wilde surge naturalmente. Podemos sempre contar com os paparazzi, o Twitter, e a própria indústria, para despertar a alegoria e exemplificar os seus muitos fluxos e refluxos. 

★★☆☆☆

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Susana Bessa

"Escrevi oito páginas enquanto comia muito açúcar." Je tu il elle (1975), Chantal Akerman

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