Body Double é uma rubrica do À pala de Walsh que transforma o artista convidado num programador (também) ao serviço das suas imagens. No âmbito desta rubrica, cada realizador ou artista escolhe uma obra sua e “programa” (virtualmente) um outro filme para a emparelhar. Num pequeno texto, dá pistas sobre a ligação entre os dois “corpos”.
La pieuvre (O Polvo, 1928) de Jean Painlevé, à esquerda, e Elo (2020) de Alexandra Ramires, à direita.
“Em ambos os planos vejo um elogio aos ossos, são ossos com pequenas vidas ancoradas.
Deixo também este elogio aos ossos pelas palavras de John Berger:
«What reconciles me to my own death more than anything else is the image of a place: a place where your bones and mine are buried, thrown, uncovered, together. They are strewn there pell-mell. One of your ribs leans against my skull. A metacarpal of my left hand lies inside your pelvis. (Against my broken ribs your breast like a flower.) The hundred bones of our feet are scattered like gravel. It is strange that this image of our proximity, concerning as it does mere phosphate of calcium, should bestow a sense of peace. Yet it does. With you I can imagine a place where to be phosphate of calcium is enough.»”
Alexandra Ramires, realizadora.