Gonçalo Tocha é um realizador atípico, poder-se-ia dizer mesmo soluçante, já que cada filme seu parece ser já o ponto final da carreira (há qualquer coisa de lapidar em cada um dos projectos, como se cada filme encerrasse um caminho e Tocha não soubesse por onde seguir). Balaou (2007) é a primeira dessas ruas sem saída que constituem o mapa da sua obra. Quando o filme foi pela primeira vez apresentado o realizador explicou que não saberia se voltaria a fazer outro, que aquele filme surgira mais por necessidade que por vontade. Depois de É na Terra, não é na Lua (2011) o discurso era semelhante, agora – depois dos filmes-convite Torres e Cometas (2012) e A Mãe e o Mar (2013), de Guimarães – Capital Europeia da Cultura e do projecto Estaleiro do Curtas de Vila do Conde, respectivamente – Tocha dedicou-se à sua carreira musical kitsch-pimba juntamente com Dídio Pestana (o responsável das bandas sonoras dos seus filmes) e parece que o cinema ficou mais uma vez esquecido.
O presente texto foi publicado no livro de compilação O Cinema Não Morreu – Crítica e Cinefilia À pala de Walsh. Pode adquiri-lo junto da editora Linha de Sombra, na respectiva livraria (na Cinemateca Portuguesa), e em livrarias seleccionadas.