A estreia entre nós de The Equalizer 2 (The Equalizer 2 – A Vingança) teve lugar a 19 de Julho deste ano. As edições recentes em Blu-ray e DVD dão o pretexto para que a pesquisa passe a trazer resultados sempre que alguém procure no À Pala de Walsh por este título, também representado nas nossas listas com os melhores filmes de 2018.
Nos seus aspectos mais gerais, o filme não apresenta diferenças significativas relativamente a The Equalizer (The Equalizer – Sem Misericórdia, 2014) dirigido pelo mesmo Fuqua, mas se as capacidades de Robert McCall (Denzel Washington) são idênticas, é na identificação da personagem que o novo filme vai mais longe. Nada que o espectador não tivesse antes dado conta, mas agora isso vem do próprio filme e de outra personagem central, Miles Witthaker (Ashton Sanders), um rapaz cujo destino se cruzará com o de McCall. Miles é um estudante de artes gráficas que nunca se separa do caderno onde desenha todo o tipo de figuras. No autocarro escolar uma colega pergunta-lhe o que ele está a desenhar e Miles responde que é uma espécie de super-herói cujo poder principal é o de saber das coisas antes das outras pessoas. É claro que Miles se está a referir a Robert McCall e que The Equalizer (o primeiro e o segundo) disputa as audiências dos filmes da Marvel e outros, com a sua proposta de um herói mais humano que os demais “super”, que no entanto possui uma inteligência, contactos ao mais alto nível, destreza no manejo de armamento e na luta corpo-o-corpo que o colocam num plano superior em relação à nossa espécie.
O mundo destes filmes de Antoine Fuqua é um prolongamento daquele em que vivemos. O tempo do filme é o nosso tempo.
Robert McCall, que no passado desempenhara funções de operacional numa agência secreta do governo americano, cuja missão era eliminar os inimigos da nação, é agora uma espécie de anjo protector mas que pode ser também vingador quando o caso se torna mais pessoal, como acontece em The Equalizer 2. O mundo destes filmes de Antoine Fuqua é um prolongamento daquele em que vivemos. O tempo do filme é o nosso tempo. Só assim é possível que a fantasia apresentada tenha o poder ilusório de redimir algum aspecto da história pessoal de cada espectador. E apenas existe um segundo propósito para os filmes deste género, que é o do entretenimento. Mas aqui estamos no nível básico de todo o cinema. É uma função que os filmes cumprem sem excepção para um número menor ou maior de pessoas. A questão da reparação, simbolicamente apresentada como um acto de justiça ou vingança, e ancorada em princípios morais universais, é o plano superior do entretenimento quando falamos dos filmes de acção.
E regressamos a Miles Whitthaker. Também a figura dele encerra um simbolismo particular. Miles representa o público-alvo principal deste filme. O cinema de indústria tem sempre em mente a audiência a que se destina. Um filme com um realizador afro-americano, protagonizado por uma estrela de cinema negra, com esta preocupação de colocar uma personagem mais jovem, também negra, que o protagonista irá ensinar e proteger, apresenta o pacote completo para que os jovens afro-americanos acima de quaisquer outros criem uma grande identificação com o filme. Robert McCall tem tanto de justiceiro como de pedagogo. Os filmes apresentam-no entre os livros e as armas. Ou a ler ou a desembaraçar-se daqueles que são responsáveis pelos males do mundo. McCall age sobretudo no meio que lhe está próximo mas as implicações de algumas intrigas obrigam-no a deslocar-se pelo mundo (Rússia, Turquia, diferentes partes da América). Ele está em todo o lado e em cada cabeça de um espectador de cinema que viva a experiência do filme como a reparação ilusória dos seus sentimentos de perda ou de injustiça.