- Cavalo Dinheiro (2015) de Pedro Costa
- Loong Boonmee raleuk chat (O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores, 2010) de Apichatpong Weerasethakul
- The Tree of Life (A Árvore da Vida, 2011) de Terrence Malick
- A torinói ló (O Cavalo de Turim, 2011) de Béla Tarr
- Adieu au Langage (Adeus à Linguagem, 2014) de Jean-Luc Godard
- Under the Skin (Debaixo da Pele, 2013) de Jonathan Glazer
- The Master (The Master – O Mentor, 2012) de Paul Thomas Anderson
- Twin Peaks (2017) de David Lynch
- La vie d’Adèle: chapitre 1 & 2 (A Vida de Adèle, 2013) de Abdellatif Kechiche
- Tabu (2012) de Miguel Gomes
Uma lista é uma lista é uma lista. E os cinéfilos gostam de listas. Nas listas cabe a subjectividade, cabe o consenso, cabe a pilhagem e mesmo a aldrabice. Quem poderá dizer que estes são os melhores filmes da década? O que são os melhores filmes? O que é um bom filme? Descemos a pique, bem vêem. 15 walshianos, 15 listas, num site que (quase) acompanhou a década. Walshianos recentes, antigos, esporádicos, intermitentes, retornados, apaixonados, cerebrais, polémicos, políticos e apolíticos. Destas listas resulta um top 10, deste top constam dois cineastas portugueses (Costa e Gomes), três americanos (Malick, P.T. Anderson e Lynch), dois franceses (Godard e Kechiche), um inglês (Glazer) e ainda um tailandês (claro, Weerasethakul) e um húngaro (Tarr). Não mistifiquemos sobre a centralidade geográfica das escolhas, nem sobre uma política autoral walshiana. Naveguemos antes na sua dispersão e nas propostas de cada um. Propostas estas que todas iluminadas produzem essa ficção belamente intitulada “os dez melhores filmes da década para o site À pala de Walsh”.

Bernardo Vaz de Castro
- Adieu au Langage de Jean-Luc Godard
- Cavalo Dinheiro de Pedro Costa
- Història de la meva mort (História da Minha Morte, 2013) de Albert Serra
- La Folie Almayer (A Loucura de Almayer, 2011) de Chantal Akerman
- O Gebo e a Sombra (2012) de Manoel de Oliveira
- Educação Sentimental (2013) de Júlio Bressane
- Dernière Séance (2011) de Laurent Achard
- Feng Ai, (‘Til Madness Do Us Apart, 2013) de Wang Bing
- Jiaoyou (Cães Errantes, 2013) de Tsai Ming-Liang
- Da Xiang Xi Di Er Zuo (An Elephant Sitting Still, 2018) de Hu Bo
Escolher um top para a década é duplamente contrário à minha natureza, porém é um exercício que inevitavelmente nos prestamos a fazer (mesmo que involuntariamente!). Em primeiro lugar porque a década é uma medida de que pouco vale, sendo a limitação temporal uma convenção dos homens e que estabelece na cabeça de quem a pratica uma cesura inexplicável ao meu entendimento. O segundo motivo para o meu desagrado provém sobretudo de uma implicação inerente a um top, porque este abarca sempre um movimento de inclusão mas também de exclusão e sobretudo uma década, haverá mais filmes excluídos que incluídos. Contudo, o «top da década» é um exercício a que reconheço igualmente duas virtudes: o primeiro é o de conferir sentido à minha experiência enquanto cinéfilo; a segunda é a de estabelecer sentido entre objectos dispersos, provindo de linguagens diferentes e que no entanto encontram um lugar comum no meu «top». Sei o motivo pelo qual amo todos os filmes que escolhi e mesmo numa década tão profícua aos discursos decadentistas que aclamam o fim do cinema, cada filme estabelece o início de algo. Talvez o filme de Godard seja o mais significativo desse «algo», porque em Adieu au Langage (Adeus à Linguagem, 2014) há uma nova forma de fazer cinema. Com este filme estamos tão próximos da imagem primitiva, como do resultado de algo nunca trazido à visibilidade. Contudo, não é apenas de imagens que vos quero falar, mas sobretudo de tempo, do tempo necessário a construir essas imagens. Cada filme escolhido por mim interrompe a aceleração do presente e estabelece, através do cinema, um novo tempo. Talvez ainda caiba ao cinema uma tarefa, algo de tal forma essencial que a morte prescrita é forçosamente adiada, porque nenhuma outra arte pode melhor contrariar a voragem sobre a qual as imagens estão sujeitas.
O tempo cinematográfico estabelece um outro tempo, que não comunga da acção dos homens, dos ritmos de consumo, da fabricação mercantilista das outras imagens. Não é por acaso que Jiaoyou (Cães Errantes, 2013) de Tsai Ming-Liang se encontra neste top. Este é o filme por excelência que expõe a natureza selvática do capitalismo enquanto, através do cinema, distende o tempo da acção a um tempo que contraria esse próprio tempo, ou seja, o tempo da narrativa (situado no core da sociedade capitalista) dá lugar ao tempo cinematográfico . Mas esta característica não é exclusiva ao cinema de Ming-Liang, também Oliveira, Costa, Akerman, Bing, Serra ou mesmo o único objecto que nos resta de Hu Bo, todos eles trabalharam sobre o tempo, moldando as imagens através de outras regras e de outras lógicas que estão fora do carnaval infinito do consumo. Se não resta mais nenhuma outra potência ao cinema, porque este não atrai mais as massas ou acalenta os espíritos revolucionários, não devemos no entanto menosprezar esta tarefa (possivelmente a mais política de todas as tarefas), porque talvez ela comporte a salvação da nossa relação com as imagens e sobretudo com um tempo que não seja o do capitalismo.

Carlos Alberto Carrilho
- Holy Motors (2012) de Leos Carax
- Under the Skin de Jonathan Glazer
- Twin Peaks de David Lynch
- Spring Breakers (Spring Breakers: Viagem de Finalistas, 2012) de Harmony Korine
- Insidious: Chapter 2 (Insidious: Capítulo 2, 2012) de James Wan
- O Ornitólogo (2016) de João Pedro Rodrigues
- No Home Movie (2016) de Chantal Akerman
- Get Out (Foge , 2017) de Jordan Peele
- Da-reun na-ra-e-seo (Noutro País, 2012) de Hong Sang-soo
- The Canyons (Vale do Pecado, 2013) de Paul Schrader
Figuras marcantes da arte contemporânea, cujas obras ultrapassam largamente a linguagem do cinema, Michael Snow e Stan Brakhage foram alvo de mostras irrepreensíveis na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. Stan Brakhage: A Arte da Visão e O Cinema de Michael Snow são a melhor prova que não só de estreias vive a actualidade e que visionar obras em cópias restauradas no formato e no espaço para onde foram desenhadas continua a ser uma prática refrescante para viver a experiência do cinema. É algo que também nos faz pensar numa das figuras da década e no maior pecado do sistema português de distribuição em sala: Bertrand Mandico e Les garçons sauvages (2017). Foi o melhor filme de 2018 para a revista Cahiers du Cinéma mas passou directamente dos festivais de cinema para a plataforma Filmin. Como escrevemos aquando da sua passagem pelo IndieLisboa 2018, ainda que evoque os primórdios e as vanguardas do cinema, reduzir Les garçons sauvages a modelos passados, a uma marginalidade que eterniza uma visão monolítica do cinema de autor, é a forma de negar a contemporaneidade do olhar de Mandico. Numa experimentação que vive na intersecção compulsiva de territórios porventura anacrónicos, olha para o passado para melhor escortinar uma ideia de futuro.

Carlos Natálio
- Cavalo Dinheiro de Pedro Costa
- Loong Boonmee raleuk chat de Apichatpong Weerasethakul
- A torinói ló de Béla Tarr
- Adieu au Langage de Jean-Luc Godard
- ‘Til Madness Do Us Apart de Wang Bing
- Visita ou Memórias e Confissões (1986-2015) de Manoel de Oliveira
- Història de la meva mort de Albert Serra
- Ji-geum-eun-mat-go-geu-ddae-neun-teul-li-da (Sítio Certo, História Errada) de Hong Sang-soo
- Leviathan (2012) de Véréna Paravel e Lucien Castaing-Taylor
- Post Tenebras Lux (2012) de Carlos Reygadas
Esta foi a década…
em que aprendemos a explodir cabeças com Carlos Reygadas; em que as GoPro passaram a ser barro para um novo capítulo do tale do não humano; em que conhecemos as variações sobre os pequenos prazeres de Sang-soo; em que Serra deu a ver o poder alquímico do cinema a partir de despojos históricos; em que partiu Oliveira mas em que cá ficou a olhar sobre o Douro; em que Wang Bing nos mostrou como Foucault e César Monteiro tinham razão; em que o velhinho Godard prognosticou a morte da linguagem e o início do ” que disparate, agora tenho lá tempo para isso”; em que Tarr fez beleza com Nietzsche e batatas; em que deixámos de ver o primitivismo como uma coisa que ande para trás com Weerasethakul; e em que Costa continuou a mostrar para que serve afinal a merda do cinema.
E esta foi a década… em que o cinema também não morreu. E viveu futuro.

Carlota Gonçalves
- Le livre d’image (O Livro de Imagem, 2018) de Jean-Luc Godard
- A torinói ló de Béla Tarr
- Cavalo Dinheiro de Pedro Costa
- E Agora? Lembra-me (2013) de Joaquim Pinto
- Tabu de Miguel Gomes
- Holy Motors de Leo Carax
- Vitalina Varela (2019) de Pedro Costa
- Past Perfect (2019) de Jorge Jácome
- Loong Boonmee raleuk chat de Apichatpong Weerasethakul
- Bait (2019) de Mark Jenkin
Marcaram para mim a década alguns ”pesos pesados” outros mais leves, todos olímpicos activadores da imagem: o inescapável Godard oferece um livro que é um campo magnético; os cavalos erguem-se com o portentoso Bèla Tarr e o ‘nosso’ Pedro Costa, que duas vezes entra, com Ventura e Varela a marcar a ferro e fogo, corpo e alma um mundo que se atravessa de olhos semi cerrados; E Agora? Lembra-me, leva-nos pela experiência de Joaquim Pinto vista ao microscópio com vivo embalamento musical; Tabu, bela peça-filme que Miguel Gomes desdobra num poderoso cântico de presente-e-passado; Carax faz de Lavant um performer camaleão conduzido pelos ‘yeux sans visage’ de Céline-Scob; a melancolia rompe em Past Perfect, e Jácome projecta-nos na palavra viva e silenciosa, numa curta de longa penetração; Apichatpong dá corpo aos fantasmas e põe-nos ao nosso lado Jenkin, em Bait, corta os planos a faca e enche-os de proximidades e faz do filme uma experiência medida à mão… 10 filmes é sempre pouco, para já ficariam estes…

Duarte Mata
- Cavalo Dinheiro de Pedro Costa
- O Gebo e a Sombra de Manoel de Oliveira
- Adieu au langage de Jean-Luc Godard
- The Tree of Life de Terrence Malick
- First Reformed (No Coração da Escuridão, 2017) de Paul Schrader
- A torinói ló de Béla Tarr
- Loong Boonmee raleuk chat de Apichatpong Weerasethakul
- Mia Madre (Minha Mãe, 2015) de Nanni Moretti
- One More Time With Feeling (2016) de Andrew Dominik
- Brawl in Cell Block 99 (Rixa no Bloco 99, 2017) de S. Craig Zahler
Tinha originalmente escrito um texto mais longo a justificar as minhas escolhas. Por sua sorte, estimado leitor, numa tentativa de não o alienar, dado o tamanho intimidante que acabou por ter a forma final, nem de querer ocupar mais espaço considerável do que o dos meus estimados camaradas walshianos, vou apenas contar uma história que espero que consiga chegar a um fim semelhante ao do primeiro num número de linhas inferior.
Há uma cena no Yi Yi (2000) de Edward Yang em que o pai e o filho (um rapaz pequeno, dotado daquela curiosidade juvenil, capitosa mas ternurenta, que cria um peso filosófico nas coisas mais inusitadas e que tomamos como esclarecidas) estão num carro a falar, com o pai a tentar acalentar as perguntas da criança que o incentivam à reflexão. O filho faz duas questões cruciais. À primeira, “Pai, como posso ver o que tu vês, e como podes ver o que vejo?”, o pai responde, “Boa pergunta. Se calhar é por isso que precisamos de uma câmara.” À segunda, “Pai, o que é a verdade?”, o progenitor replica, “Bom, a verdade é aquilo que tu vês.” Mas esta segunda resposta não se fica por aqui e faz o pequeno replicar, “Se assim é, eu só vejo metade da verdade?”, dado que uma pessoa só está apta a ver o que está à sua frente, e não o que está atrás de si. O pai não tem resposta. A consequência deste curto mas nada superficial debate familiar leva a que o miúdo arranje, de facto, uma máquina fotográfica. Com que finalidade? A de fotografar as nucas das pessoas e dar aos retratados os insólitos resultados, dizendo-lhes “É para que possas saber toda a verdade sobre ti próprio.”
Dias depois de ter visto este filme pela primeira vez, perguntaram-me o que era para mim o cinema. Respirei fundo, puxei pela memória, e contei estes momentos de forma mais ou menos fiel à do parágrafo anterior, dizendo que, na minha perspectiva, o cinema passa justamente pelas duas questões do rapaz e a subsequente acção deste. À primeira pergunta, disse que a associação era evidente, o cinema leva à pluralidade de pontos-de-vista sobre um dado tema, assunto, facto, enfim, a compartilha de uma visão do mundo a que as pessoas voluntariamente abrem a sua mente e confrontam com a sua. Mas é a segunda questão, onde está menos evidente a ligação, mas mais presente na forma como se relaciona com as fotografias realizadas pelo filho, que mostra como o melhor cinema, tal como a melhor literatura, também existe enquanto ferramenta para a descoberta da verdade, para o aprofundamento do conhecimento de um indivíduo sobre o que o rodeia, mas essencialmente sobre si próprio. Que é um meio de soltar menos a questão “O que é isto?” do que “Quem sou eu?”, e estar apto, pela identificação, a providenciar mais respostas do que ao princípio se esperaria. Ou, de maneira mais sucinta, que ao filmar os rostos das outras pessoas, tem na verdade a câmara apontada às nossas nucas.
Estes dez filmes que escolho, escolho-os então por isso: para além do evidente impacto estético em alguns casos, escolho-os principalmente pelo que de novo me mostraram, diferentes visões do mundo e do cinema que me levaram a confrontar, a re-moldar, a questionar, a aprofundar, a expandir aquelas que tinha há 10 anos. E, por conseguinte, pelo que me ensinaram numa perspectiva de autognose. Os elementos que compõe esta decúria, para mim, não são apenas filmes. São verdades inteiras que me ajudaram a conhecer(-me).

Francisco Noronha
- La vie d’Adèle: chapitre 1 & 2 de Abdellatif Kechiche
- Die andere Heimat – Chronik einer Sehnsucht (Heimat – Crónica de Uma Nostalgia, 2013) de Edgar Reitz
- Boyhood (Momentos de Uma Vida, 2014) de Richard Linklater
- Mektoub, My Love: Canto Uno (Mektoub, Meu Amor: Canto Primeiro, 2017) de Abdellatif Kechiche
- Melancholia (2011) de Lars von Trier
- Copie conforme (Cópia Certificada, 2010) de Abbas Kiarostami
- Un amour de jeunesse (Um Amor de Juventude, 2011) de Mia Hansen-Løve
- Nymphomaniac (2013) de Lar von Trier
- Film Socialisme (Filme Socialismo, 2010) de Jean-Luc Godard
- Dragonfly Eyes (2017) de Xu Bing
Inútil esboçar qualquer tipo de disciplina ou exercício de coerência com os outros ou connosco próprios: os filmes são, como uma criança, como o amor, um ser vivo em permanente e silenciosa transformação. Sublinho “silenciosa”. Quando damos por ele, olha, tão crescido que está… O salto que deu, ainda há pouco era uma formiga… Como ele mudou nestes anos, era bem mais parecido com o pai da última vez que o vi…
Prova disso é o facto de La vie d’Adèle estar no lugar que está quando, no ano em que estreou, ter ocupado apenas o sétimo lugar da minha lista de então. O tempo que passa, eis o eixo axial que surpreendo – com que me surpreendo, também – em todas as minhas escolhas. O tempo que, para além de razão obviamente, misteriosamente, maior do que os homens, por isso que fora do seu controlo, não deixa de ser, simultaneamente, algo em que se pode acreditar, em que(m) se pode depositar fé. Adorar, também, como já os gregos o faziam. O tempo, o tal sábio. Na vida, no plano; no amor, no corte; no movimento, na memória; no cinema.
Outros: Road to Nowhere, Ida, L’Appolonide, Victoria, O Filho de Saul, Tournee (M. Amalric), Uma Separação, Para lá das Colinas, Leviatã (Zvyagintsev) Oslo 31 de Agosto, Love (G. Noé), Arrival, Lumière! L’aventure commence, Shame (Steve McQueen), L’amant d’un jour, Another Year (Mike Leigh), Moonlight, Jeune & Jolie, Once upon a time in… Hollywood, Joker, The Tree of Life, Bacurau, Barbara, Tabu, First Reformed, Pater (A. Cavalier), Paterson, Manchester by the Sea, Rester Vertical, L’Inconnu du Lac, Somewhere (S Coppola), 4:44 Last Day on Earth, Her, Montanha (J. Salaviza), Clouds of Sils Maria, Eden (Mia Hansen Love), Timbuktu, The Lobster, Julieta (Almodovar), Aloys (Tobias Nölle), Dom Juan & Sganarelle (V. Macaigne), Dois dias, Uma Noite (irmãos Dardenne), 45 Anos (A. Waigh), Get Out, Phantom Thread, First Reformed, Call Me By Your Name, Post Tenebras Lux, Force Majeure (Östlund), Io sono l’amore (Guadagnino), Até Ver a Luz, China – Um Toque de Pecado, Bai ri yan huo (Carvão Negro, Gelo Fino, de Yi’nan Diao).

João Araújo
- Loong Boonmee raleuk chat de Apichatpong Weerasethakul
- The Tree of Life de Terrence Malick
- Bir Zamanlar Anadolu’da (Era Uma Vez na Anatólia, 2011) de Nuri Bilge Ceylan
- Saul fia (O Filho de Saul, 2015) de László Nemes
- Cavalo Dinheiro de Pedro Costa
- Certain Women (2016) de Kelly Reichardt
- La vie d’Adèle: chapitre 1 & 2 de Abdellatif Kechiche
- Under the Skin de Jonathan Glazer
- Copie conforme de Abbas Kiarostami
- Melancholia de Lars von Trier
Do 11 ao 20, por ordem de preferência: Tabu de Miguel Gomes, Beoning (Em Chamas, 2018) de Lee Chang-Dong, First Reformed de Paul Schrader, Paterson de Jim Jarmusch, Amour de Michael Haneke, This Is Not a Film de Jafar Panahi, The Master de Paul Thomas Anderson, Manchester By the Sea de Kenneth Lonergan, Meek’s Cutoff de Kelly Reichardt e Deux jours, une nuit de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne.
Imagine-se que vemos 3 filmes (realizados entre 2010-2019) por semana durante 10 anos. Se escolher os melhores do ano é já uma tarefa bastante subjetiva, imagine-se então escolher os melhores 10 a partir de cerca de 1.500 filmes (e 3 é um número conservador). Por isso, este acaba por ser um exercício que será à partida um resumo dos tops de cada ano ao longo da última década, sujeito porém a 2 condicionantes: a reavaliação normal de um filme com a distância da passagem do tempo, e o facto de haver anos com melhores filmes que outros (a que ainda acrescenta a possibilidade de aqui incluir filmes que não tiveram estreia comercial, ao contrário das outras listas de fim de ano). Estes são então os filmes que perduram no meio dessa neblina fragmentada de imagens, e não deixa de ser curioso que os dois melhores sejam logo de 2011 – aliás, dos 10 escolhidos, 8 são anteriores a 2015 – são dois filmes parecidos, dois épicos íntimos, que abordam a efemeridade da vida e também como o cinema a tenta contrariar da única forma possível, eternizando as imagens de memórias fugidias. Uma análise aprofundada sobre temas e estilos exigiria mais tempo e mais espaço, mas esta foi sem dúvida uma década estranha. Do lado positivo, ficam as 4 curtas portuguesas que venceram os prémios dos principais festivais de cinema (Cannes e Berlim por três vezes), num feito impensável até acontecer; do lado negativo, esta foi a década em que perdemos figuras monumentais como Manoel de Oliveira, Paulo Rocha, Fernando Lopes, Chantal Akerman, Abbas Kiarostami, Agnès Varda, Jonas Mekas, Bernardo Bertolucci, Chris Marker, Jacques Rivette, Seijun Suzuki, Alain Resnais, Jeanne Moreau, Setsuko Hara e Anna Karina… que o seu legado seja então celebrado, que continuem a surgir novos talentos, e que o cinema continue a ocupar um lugar central nas nossas vidas.

José Bértolo
- Loong Boonmee raleuk chat de Apichatpong Weerasethakul
- Atlantique (2019) de Mati Diop
- Inland Sea (2018) de Kazuhiro Soda
- Ji-geum-eun-mat-go-geu-ddae-neun-teul-li-da de Hong Sang-soo
- Phoenix (2014) de Christian Petzold
- Leviathan (2012) de Véréna Paravel e Lucien Castaing-Taylor
- In film nist (Isto Não é um Filme, 2011) de Jafar Panahi e Mojtaba Mirtahmasb
- Nan Fang Che Zhan De Ju Hui (O Lago dos Gansos Selvagens, 2019) de Diao Yi’nan
- Planet Earth II (2016) de BBC
- Natural History (2014) de James Benning
Deixo ainda uma referência a outros filmes que poderiam integrar esta lista: Spark of Being de Bill Morrison; O Estranho Caso de Angélica de Manoel de Oliveira; Cave of Forgotten Dreams de Werner Herzog; Alvorada Vermelha de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata; Hanezu de Naomi Kawase; Jiro Dreams of Sushi de David Gelb; Holy Motors de Leos Carax; Cães Errantes de Tsai Ming-Liang; E Agora? Lembra-me de Joaquim Pinto; Outtakes from the Life of a Happy Man de Jonas Mekas; Cavalo Dinheiro de Pedro Costa; Mountains May Depart de Jia Zhangke; Carol de Todd Haynes; Happy Hour de Ryusuke Hamaguchi; The Assassin de Hou Hsiao-Hsien; Twin Peaks de David Lynch; Frantz de François Ozon.

Luís Mendonça
- The Tree of Life de Terrence Malick
- A torinói ló de Béla Tarr
- 48 (2009) de Susana de Sousa Dias
- The Hateful Eight (Os Oito Odiados, 2015) de Quentin Tarantino
- The Immigrant (A Imigrante, 2013) de James Gray
- Phantom Thread de Paul Thomas Anderson
- Cavalo Dinheiro de Pedro Costa
- La vie d’Adèle: chapitre 1 & 2 de Abdellatif Kechiche
- Mother! (2017) de Darren Aronofsky
- João Bénard da Costa: Outros Amarão as Coisas que Eu Amei (2014) de Manuel Mozos
Olho para os tops dos vários anos da década e vou “pescando” os filmes que verdadeiramente me marcaram, que me tiraram da minha zona de conforto, que me abanaram e abananaram. E resulta deste esforço impressivo, veloz e emocional, uma lista com obras que me comoveram de sobremaneira. Ficam de fora alguns personal favourites que provavelmente não caberão em nenhuma lista, mas que podiam perfeitamente aparecer neste meu top, se este fosse mais um auto-retrato do que outra coisa. De facto, gosto muito de um Welcome to New York de Abel Ferrara, de um Killer Joe de William Friedkin, de um The Ward de John Carpenter, de um Good Time dos Safdie, de um Glass de M. Night Shyamalan, de um The Conjuring e The Conjuring 2 de James Wan, de um The Innkeepers de Ti West, de um O Gebo e a Sombra de Manoel de Oliveira! Enfim, as escolhas estão feitas, o juiz decidiu e está decidido. Next.

Paulo Cunha
- Se eu fosse ladrão… roubava (2013) de Paulo Rocha
- Bacurau (2019) de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
- Tabu (2012) de Miguel Gomes
- Balada de um Batráquio (2016) de Leonor Teles
- Era uma vez na Anatólia de Nuri Bilge Ceylan
- O Cavalo de Turim de Bela Tarr
- 48 de Susana de Sousa Dias
- Linha Vermelha (2011) de José Filipe Costa
- Cesare deve morire (César Deve Morrer, 2012) de Vittorio e Paolo Taviani
- Ama-San (2016) de Cláudia Varejão
Uma lista é sempre uma lista. Quer seja de filmes ou do supermercado, implica uma enumeração de bens essenciais para uma determinada ocasião. Depois de refeita várias vezes, ainda ficamos com a sensação de que faltará algo, algo importante, algo que não deveria ficar esquecido, mas que acabamos sempre por esquecer. Neste momento em que escrevo, a lista dos meus bens cinematográficos essenciais da década passada incluem estes filmes. Mas não tenho a certeza qual a validade da lista. Ela não é uma mera soma das listas anuais, ela tem outro tempo, outra distância, e o tempo e a distância ajudarão a reorganizá-la, a reordená-la, a valorizá-la ou a desprezá-la.

Ricardo Gross
- Nuestro Tiempo (2018) de Carlos Reygadas
- The Master (The Master – O Mentor, 2012) de Paul Thomas Anderson
- Sicario (Sicário – Infiltrado, 2015) de Denis Villeneuve
- Melancholia de Lars von Trier
- Logan (2017) de James Mangold
- La grande bellezza (A Grande Beleza, 2013) de Paolo Sorrentino
- Only God Forgives (Só Deus Perdoa, 2013) de Nicolas Winding Refn
- Spring Breakers de Harmony Korine
- Under the Skin de Jonathan Glazer
- Boi Neon (2015) de Gabriel Mascaro
À tarefa impossível de escolher apenas dez filmes em uma década de cinema, respondi com a lista acima. Pretendi que a lista valesse (falasse) pelo seu conjunto, mais que pela individualidade dos filmes que dela fazem parte. A lista dirá sobretudo do meu gosto pessoal, que caracterizei com escolhas heterogéneas. Alguns títulos podiam ser substituídos com outros do mesmo realizador. Alguns realizadores não estão presentes porque os seus filmes mais relevantes foram feitos fora deste período. Quero só acrescentar a metodologia que usei na elaboração da lista. A passagem pela minha colecção de DVD, uma primeira escolha de cerca de 20 títulos, e a dolorosa diminuição para dez, com muitas dúvidas e ajustes que se poderiam perpetuar sem fim.

Ricardo Vieira Lisboa
- Visita ou Memórias e Confissões (1986-2015) de Manoel de Oliveira
- Not Even Nothing Can Be Free of Ghosts (2016) de Rainer Kohlberger
- Ma Loute (2016) de Bruno Dumont
- Elle (2016) de Paul Verhoeven
- Gone Girl (Em Parte Incerta, 2014) de David Fincher
- Meek’s Cutoff (O Atalho, 2010) de Kelly Reichardt
- Mes 7 lieux (2013) de Boris Lehman
- Se eu fosse ladrão… roubava de Paulo Rocha
- Rubber Coated Steel (2016) de Lawrence Abu Hamdan
- Cosmopolis (2012) de David Cronenberg
Listas são listas sãos listas são listas são listas. Esta deu-me prazer a construir. Compus e de-compus. Juntei e retirei títulos. Fiz várias listas por temas, nacionalidades, estilos, circuitos comerciais, etc. E talvez esta seja o resultado desse processo ou de uma simples provocação: tentar não incluir na minha lista nenhum dos títulos das listas dos meus colegas. Falhei nos dois títulos portugueses: filmes de além-tumba que muito se tocam e muito me tocaram. E nesta lista tanto há espaço para coisas de 12 minutos como para outras de 6 horas, tanto se exploram as formas mais ousadas da imagem em movimento (com o som, mais ou menos síncrono) como se trabalha o classicismo narrativo. Infelizmente não consegui incluir mais filmes de pipoca, mas havia tantos… Acabaram por ficar objectos que me marcaram esteticamente, emocionalmente, intelectualmente, mas – e acima de tudo – objectos que encaro como auto-biográficos; vendo neles momentos marcantes destes 10 anos que passaram, das amizades que eles provocaram, dos convites que eles simbolizam, das paixões que eles despertaram, das discussões, do trabalho, do prazer, do encantamento e do amor em que neles me revejo. Que mais dizer? Vejam-nos todos e venham-me depois dizer que sou um grandessíssimo otário. Ou talvez não.

Sabrina D. Marques
- The Tree of Life de Terrence Malick
- Loong Boonmee raleuk chat de Apichatpong Weerasethakul
- Nostalgia de la luz (Nostalgia da Luz, 2010) de Patricio Guzmán
- Arrival (O Primeiro Encontro, 2016) de Denis Villeneuve
- Le livre d’image de Jean-Luc Godard
- First Reformed (No Coração da Escuridão, 2017) de Paul Schrader
- Joker (2019) de Todd Phillips
- Gravity (Gravidade, 2013) de Alfonso Cuarón
- Cavalo Dinheiro de Pedro Costa
- Aquarius (2016) de Kleber Mendonça Filho
Estes são os filmes que marcaram a minha década dos 10’s.

Samuel Andrade
- The Master de Paul Thomas Anderson
- Trudno Byt Bogom (É Difícil Ser Deus, 2013) de Aleksey German
- Under the Skin de Jonathan Glazer
- The Tree of Life de Terrence Malick
- Dawson City: Frozen Time (2016) de Bill Morrison
- Tabu de Miguel Gomes
- Boyhood de Richard Linklater
- Adieu au Langage de Jean-Luc Godard
- Leviathan de Lucien Castaing-Taylor e Véréna Paravel
- Mad Max: Fury Road (Mad Max: Estrada da Fúria, 2015) de George Miller
Reflectir sobre o cinema da década que agora findou, e da mesma detalhar um conjunto de dez títulos, requer, necessariamente, uma escolha baseada no formulaico “teste do tempo”. Isto é, filmes cuja marca, influência e distinção não só se sentiram na sua data de estreia, como também durante os próprios anos 2010 e, definitivamente, para a era e as gerações cinéfilas vindouras. Este “top” agora partilhado convosco tenta, portanto, responder a esse desafio, ao mesmo tempo que procura açambarcar a maior variedade possível de geografias (do filme norte-americano à cinematografia europeia), géneros (do blockbuster ao documentário), suportes fílmicos (da película de 70mm à maleabilidade do digital) e registos artísticos (da pura narrativa linear ao experimentalismo) que a década passada — uma época que assinalou o triunfo e a disrupção do digital e do streaming sobre o modo como observamos cinema — proporcionou.
Assim, neste exercício de introspecção e retrospectiva absolutas, conclui-se The Master como o filme mais completo e influente dos anos 2010; uma obra que, transcendendo a mera crítica fenomenológica, sublinha uma metáfora dos Estados Unidos da América enquanto nação traumatizada e fracturada por conflitos armados, extremismos ideológicos, políticos e religiosos, e composta por indivíduos a quem o esclarecimento não é garante de elevação ao estado de “animal humano” aqui encarnado por um excepcional Joaquin Phoenix. Não será, precisamente, este bloco de características um corolário moral daquilo a que os Estados Unidos chegaram, enquanto país, no fim da década passada?
Paralelamente, The Master enunciou o elogio a um cinema norte-americano que há muito cessou de existir. Paul Thomas Anderson “abriu-nos” a visão aos ambientes do stress pós-traumático de Let There Be Light (1946, de John Huston), aos grandiosos desertos filmados em 70mm de Lawrence of Arabia (Lawrence da Arábia, 1962), à privativa demonstração de poder em Citizen Kane (O Mundo a Seus Pés, 1941) e aos ambíguos heróis dos filmes pessimistas dos anos 50.
Por fim, e para além dos dez filmes aqui salientados, a década ficou ainda marcada por obras como: The Ghost Writer (O Escritor Fantasma, 2010, de Roman Polanski), Inception (A Origem, 2010, Christopher Nolan), Drive (Drive – Risco Duplo, 2011, Nicolas Winding Refn), Take Shelter (Procurem Abrigo, 2011, de Jeff Nichols), The Act of Killing (O Acto de Matar, 2012, Joshua Oppenheimer e Christine Cynn), La fille de nulle part (A Rapariga de Parte Nenhuma, 2012, de Jean-Claude Brisseau), Mille soleils (2013, de Mati Diop), Gone Girl (Em Parte Incerta, 2014, de David Fincher), João Bénard da Costa: Outros Amarão as Coisas Que Eu Amei (2014, de Manuel Mozos), Ci ke Nie Yin Niang (A Assassina, 2015, de Hou Hsiao-Hsien), The Childhood of a Leader (A Infância de Um Líder, 2015, de Brady Corbet), The Hateful Eight (Os Oito Odiados, 2015, de Quentin Tarantino), The Forbidden Room (2015, de Guy Maddin e Evan Johnson), O Ornitólogo (2016, João Pedro Rodrigues), Elle (Ela, 2016, de Paul Verhoeven), Aquarius (2016, de Kleber Mendonça Filho), Cartas da Guerra (2016, de Ivo Ferreira), Good Time (2017, de Joshua e Ben Safdie), First Reformed (No Coração da Escuridão, 2017, de Paul Schrader), The Lighthouse (2019, Robert Eggers) e The Irishman (O Irlandês, 2019, de Martin Scorsese).

Vítor Ribeiro
- Twin Peaks de David Lynch
- Isto não é um Filme de Jafar Panahi e Mojtaba Mirtahmasb
- Ma’ Rosa (Mãe Rosa, 2016) de Brillante Mendoza
- Post Tenebras Lux de Carlos Reygadas
- Aurora (2010) de Cristi Puiu
- Good Time (2017) de Benny Safdie, Josh Safdie
- Sangue do Meu Sangue (2011) de João Canijo
- Welcome to New York (Benvindo a Nova Iorque, 2014) de Abel Ferrara
- A Loucura de Almayer de Chantal Akerman
- Kyatapirâ (O Bom Soldado, 2010) de Kôji Wakamatsu
Na elaboração da lista, procurei privilegiar os filmes vistos em sala de cinema, mas acabei a dar duas abébias: se o UFO – Unidentified Film Object – 18 horas de cinema da terceira série de Twin Peaks – vale per se, o senhor Lynch deu um empurrão quando começou a enfiar a série no Cinema com Fire Walk With Me (1992); é outra coisa olhar do nosso tempo para Welcome to New York, quando sabemos que com a carne e o dinheiro de DSK – Depardieu – Deveraux – começou a despedida de Ferrara da sua New York, que também é a de Scorsese e a de Good Time, o melhor Scorsese da década, pelos irmãos Safdie. Nas escolhas também favoreci filmes e autores que falam connosco, como relações de horizontalidade entre personagens dentro de um filme, em detrimento dos objectos que nos esmagam. Também me apercebo de que muitas das escolhas parecem vir de outro tempo, resultado de memórias que agregam obras mais ou menos extensas, de autores que adicionam perspectivas de apreensão, representação e subversão do mundo em contracorrente com um tempo de círculos perfeitos, de balburdias morais entre obras e autores, em que “deixou de haver espaço para a metáfora”, como dizia há dias Bret Easton Ellis. E melhor do que justificar as escolhas, recorro a algumas linhas para vos deixar os títulos e os autores que mais me custou deixar de fora: o trânsito pelo tempo da História de Sergey Loznitsa, Wang Bing, Christian Petzold e Quentin Tarantino; os corpos de Verão na primeira parte da trilogia Mektoub, Meu Amor de Abdellatif Kechiche e os corpos e a solidão da trilogia Paradise de Ulrich Seidl; as fantasias do subúrbio de Matteo Garrone; Quinquin e as outras criaturas de Bruno Dumont; os Lumière! como nunca os tínhamos visto, uma cortesia de Thierry Frémaux; os espíritos de Apichatpong e os zombies de Pedro Costa; a felina Huppert de Elle de Verhoeven, o samurai Killer Joe de Friedkin, o mártir de First Reformed de Schrader, Zama, homem sem cabeça de Lucretia Martel e o jardineiro de memórias Eastwood em The Mule; novos faróis da américa, da Borderline Martha Marcy May Marlene de Sean Durkin e Queen of Earth de Alex Ross Perry com Elisabeth Moss, uma das actrizes da década; e O Estranho Caso de Angélica e Copie Conforme dos gigantes Oliveira e Kiarostami, que se despediram nesta década.